Ficha Técnica

Área de Intervenção
Promoção da saúde e da reabilitação na comunidade, junto da população mais velha em situação de fragilidade e vulnerabilidade.
Duração
12 meses
Localização
Freguesia do Bonfim, no Porto
Descrição

Vivemos numa sociedade cada vez mais envelhecida e, segundo as estimativas, Portugal será o país mais envelhecido da União Europeia em 2050 (Ageing Europe, 2019). 
No Porto, mais de 25% da população residente (60.210 pessoas) tem mais de 65 anos, e dessas, mais de 38 mil vivem sozinhas (Censos, 2021). O índice de envelhecimento na cidade é superior à média nacional; no Centro Histórico do Porto e no Bonfim os números são particularmente alarmantes: existem 309,1 e 301,9 idosos por cada 100 jovens, respetivamente (Plano de Ação 2023-2025 Porto Cidade Amiga das Pessoas Idosas). 
O processo de envelhecimento desencadeia mudanças físicas, funcionais, psicológicas e socioeconómicas, onde viver mais nem sempre significa viver melhor (DGS, 2017). 
A ausência de retaguarda familiar, as fracas redes de solidariedade enfraquecidas, a baixa literacia, a insuficiência económica, as necessidades decorrentes das doenças crónicas, entre outras situações, promovem o isolamento do idoso, impedindo-o de exercer o seu direito de cidadania e de aceder às estruturas da rede social de suporte. (DGS, 2017)
Segundo o Relatório de Caraterização e Diagnóstico – Demografia e Desenvolvimento Social da Câmara Municipal do Porto (CLAS), constatou-se a existência de desigualdades em saúde, sobretudo nos grupos mais vulneráveis, como é o caso dos idosos. 
O contacto com os serviços de saúde de qualidade pode revelar-se difícil e a continuidade dos cuidados nem sempre é garantida, em consequência da falta de acesso. A falta de segurança e de relações pode originar o desenvolvimento de fobias e medos; a deficiente funcionalidade dos espaços interiores da habitação podem dar origem a problemas do foro psicológico e contribuir para a não confeção de refeições saudáveis que, associada a uma consequente redução de mobilidade, pode levar a sérios problemas de obesidade e, consequentemente, cardiovasculares; e podem ainda levar à ocorrência de acidentes, quedas, incêndios ou outros. (Faria, Oliveira, Rocha, Lage, & Gomes, 2018) 
Tudo isto acarreta custos adicionais ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e aos serviços sociais em Portugal, que podem ser minimizados com a identificação de situações de vulnerabilidade, a sua devida referenciação e/ou a atuação concertada dos vários atores em cuidados sistemáticos e personalizados no contexto comunitário.
As respostas existentes no distrito do Porto são sobreponíveis às existentes noutras regiões do país. As estruturas da rede social (lares, centros de dia e serviços de apoio domiciliários), além de sobrelotadas, não são suficientes e adequadas face aos diagnósticos. Neste sentido, acreditamos que faltam equipas de proximidade que atuem a montante dos problemas relacionados com o envelhecimento, especialmente com o enfoque na reabilitação e prevenção de fatores de risco. 
As estruturas comunitárias da sociedade civil têm aqui uma intervenção privilegiada/ facilitada, porque têm uma forte componente de trabalho em rede e conhecem como ninguém os seus territórios, chegando a pessoas que, por diversas razões, não recorrem às estruturas formais de saúde.
Em Portugal, a despesa com saúde e cuidados de longa duração têm tendência a aumentar ainda mais nos próximos anos, o que terá impacto na economia. É, por isso, urgente implementar novas soluções, flexíveis, de acompanhamento efetivo e multidisciplinar (custo-eficiente e de qualidade), e de proximidade com a comunidade.
A reabilitação é parte essencial da cobertura universal de saúde, juntamente com a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e cuidados paliativos e faz parte de uma estratégia crucial para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 - Saúde de Qualidade – "Garantir vidas saudáveis e promover o bem-estar para todos em todas as idades".
A reabilitação permite às pessoas mais velhas serem o mais independentes possível nas tarefas e/ou atividades do seu dia -a -dia e que dão sentido às suas vidas. Sabemos que, atualmente, muitas das necessidades de reabilitação não são satisfeitas, por várias razões, nomeadamente: 
- falta de acesso a serviços de reabilitação em ambulatório, devido a critérios de referenciação limitadores, dificuldades de acesso a transporte e listas de espera morosas; 
- escassez/ ausência de resposta de reabilitação em domicílio, face a critérios de referenciação limitadores no que diz respeito às Equipas na Comunidade da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e listas de espera morosas; 
- escassez de equipas de proximidade e de projetos comunitários no âmbito da reabilitação;
- ausência de respostas e projetos que atuem com foco na prevenção e promoção da saúde e de um envelhecimento ativo e saudável em contexto domiciliário e comunitário. 
De facto, estima-se que, face às pessoas viverem cada vez mais anos e com mais doenças crónicas e incapacitantes, a necessidade de serviços de reabilitação tenda a aumentar. E sabe-se que o atraso na reabilitação precoce diminui os potenciais ganhos obtidos.
A Médicos do Mundo (MdM) tem vindo a diagnosticar detalhadamente as necessidades e a desenvolver algumas respostas que pretendem mitigar os riscos que as pessoas mais velhas, em situação de fragilidade e vulnerabilidade, estão sujeitas, e por outro lado, a procurar desenvolver e melhorar as condições de vida destas pessoas e dos seus cuidadores. 
Desta forma, criámos um projeto de proximidade – Bonfim Cuida – com uma forte componente de intervenção home-based rehabilitation
Trata-se de uma resposta, que aspira a ser inovadora a nível do município do Porto, atendendo às necessidades identificadas pela Rede de Parceiros, numa lógica de complementaridade. Pressupõe uma equipa constituída por um fisioterapeuta e uma enfermeira, que pretende contribuir para a promoção da saúde e da reabilitação em contexto domiciliário. Este projeto poderá ainda beneficiar de todos os recursos intelectuais e materiais disponíveis na Organização.
O projeto contempla também um Banco de Bens de Apoio, que tem por objetivo disponibilizar materiais/ equipamentos de forma gratuita, temporária e em rede de cedência e devolução, bem como a realização de alterações/ adaptações domiciliárias, tornando os contextos habitacionais mais funcionais, seguros, confortáveis, e promotores de autonomia e independência. 
Em suma, com este projeto, pretendemos contribuir para uma política global, integrada e transversal, através do acompanhamento/ monitorização da saúde dos beneficiários, da promoção de reabilitação, da atribuição de forma gratuita e universal de produtos de apoio, da realização de adaptações domiciliárias e da promoção da literacia em saúde das pessoas adultas mais velhas e dos seus cuidadores/ parceiros de cuidados. 
É ainda de reforçar que pretendemos contribuir para o ageing in place, ou seja, para que os beneficiários possam continuar a viver nas suas casas e integrados na sua comunidade; e para a capacitação e o empoderamento destes, facilitando que sejam, eles próprios, agentes ativos e promotores da mudança comportamental.
Assim, o Bonfim Cuida pretende ser uma resposta preventiva, promotora e facilitadora do ageing in place, home-based rehabilitation e do envelhecimento ativo, saudável e bem-sucedido para pessoas mais velhas e de apoio aos seus cuidadores.

 

Objetivo Geral

1) Em 12 meses, pretende-se contribuir para a promoção da saúde e da reabilitação, em contexto domiciliário, de 20 pessoas adultas mais velhas, residentes na freguesia do Bonfim, bem como para a capacitação para o processo de cuidar dos seus cuidadores.

 

Objetivos Específicos

Objetivos Específicos:
1.1) Contribuir para a permanência dos utentes nos seus contextos domiciliários, através da promoção/ manutenção da funcionalidade.
1.2) Contribuir para a promoção da literacia em saúde e capacitação/ empowerment para o processo de cuidar.

 

Público-Alvo

Diretos: 
1) Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos de idade, de ambos os géneros, em situação de isolamento e/ou vulnerabilidade social, com ou sem diagnóstico de patologia; 
2) Pessoas com idade igual ou superior a 55 anos de idade, de ambos os géneros, numa lógica de prevenção primária, com o intuito de promover uma atitude mais positiva e saudável face ao envelhecimento. 
Indiretos: cuidadores de pessoas dependentes e/ou com algum grau de incapacidade.

 

 

Recursos Humanos

1 coordenador/a de projeto; 1 fisioterapeuta; 1 enfermeiro/a, 1 médico/a em regime de voluntariado.

 

Parceiros
Alberto Oculista
Associação Coração Amarelo
Cooperativa do Povo Portuense
Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
GAS PORTO - Grupo de Ação Social do Porto
Helpphone
Junta de Freguesia do Bonfim
Norte Vida - Associação para a Promoção da Saúde
Programa Integrado de Policiamento de Proximidade (PIPP)
Rede Social do Porto – Unidade Operacional de Intervenção com a População Sénior e seus Cuidadores
Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto
VOU – Associação de Voluntariado Universitário
Financiadores

Junta de Freguesia do Bonfim ao abrigo do Orçamento Colaborativo 2024 e Financiamento Privado da MdM (doadores individuais e coletivos que financiam a intervenção da Estratégia de Envelhecimento Ativo e Saudável).

 

Atividades

1. Avaliação inicial das sinalizações e realização do diagnóstico/ identificação de necessidades e definição do plano de intervenção (N=20).
2. Avaliações do contexto domiciliário/ fatores ambientais e acessibilidades previsto (N=20).
3. Visitas domiciliárias/ atendimentos/ contactos telefónicos/ encontros na comunidade.
4. Treino de Funcionalidade: treinos individualizados de atividades orientadas para tomar conta do próprio corpo (AVD) (ex. vestir/ despir, tomar banho, alimentar-se...) e atividades de suporte da vida diária (AVDI) (ex. usar telefone, apanhar os transportes públicos, gestão económica, fazer compras...) (N=100).
5. Educação Terapêutica/ Estratégias preventivas/ Treino de Práticas de Segurança - ensinos individualizados, treino para utilizar corretamente os produtos de apoio, sensibilização para a prevenção do risco de queda, soluções e adaptações a baixo custo (com recursos a materiais do dia-a-dia) (N=100).
6. Introdução de Produtos de Apoio - equipamentos que previnem, compensam e atenuam diferentes fatores comprometedores da participação e do desempenho do indivíduo (ex. camas articuladas, cadeiras de rodas, bengalas, barras de apoio para WC, produtos de incontinência, etc.) (N=50).
7. Adaptações Domiciliárias - promoção das alterações necessárias no contexto físico, tendo em conta as necessidades da pessoa, incluindo eliminação de barreiras arquitetónicas e adoção de práticas de acessibilidade. Pode ainda prever a realização de ações de limpeza, de forma a garantir a segurança, conforto e salubridade (N=10).
8. Sessões de Reabilitação - prática de exercícios de mobilidade, fortalecimento, equilíbrio, resistência, coordenação motora, reabilitação respiratória, etc. (N=400).
9. Consultas de enfermagem - intervenção de prestação de cuidados, que incluem a avaliação e estabelecimento de plano de cuidados de enfermagem, no sentido de ajudar o indivíduo a manter, recuperar ou melhorar a saúde e atingir a máxima capacidade de autocuidado. Pode ocorrer nas instalações da Representação do Porto da MdM e/ou no domicílio dos idosos e contempla: avaliação de parâmetros antropométricos e clínicos (ex. peso, pressão arterial, glicemia) e monitorização do estado geral de saúde (N=200).
10. Ações de capacitação dos cuidadores/ desenvolvimento de ferramentas para o autocuidado e boas práticas no processo de cuidar previsto - ações destinadas aos cuidadores de pessoas dependentes ou com algum grau de incapacidade, que poderão ter a componente teórica e/ou prática. Pressupõe a identificação do stress associado ao papel de cuidador (desgaste do cuidador) e o desenvolvimento de estratégias para lidar com essa situação (N=50).
11. Ações individuais para os utentes de Educação para a Saúde previstos - experiências de aprendizagem que tenham por objetivo ajudar os utentes a aumentar as suas capacidades de controlarem a sua saúde, no sentido de a melhorarem, através do aumento dos conhecimentos ou influenciando as suas atitudes (N=100).
12. Monitorização e Avaliação do Projeto através da Atualização do Sistema de Informação do Projeto; Plano de Monitorização de atividades; Reuniões Mensais de equipa e Relatório semestral e anual de Avaliação Técnica e Financeira.

 

Resultados

Indicadores de medida – resultado:
OE 1.1
N.º de avaliações multidimensionais individualizadas/ fatores pessoais dos beneficiários previsto (N=20).
N.º de avaliações do contexto domiciliário/ fatores ambientais e acessibilidades previsto (N=20).
N.º de sessões de Treino de Funcionalidade previsto (N=100).
N.º de sessões de Educação Terapêutica previsto (N=100).
N.º de Produtos de Apoio/ Ajudas Técnicas previsto (N=50).
N.º de Adaptações Domiciliárias previstas (N=10).
N.º de Sessões de Reabilitação (N=400).
100% dos beneficiários sinalizadas são avaliadas relativamente à autonomia para as Atividades de Vida Diária (AVDs), segundo a Índice de Barthel.
100% dos beneficiários sinalizadas são avaliadas relativamente à autonomia para as Atividades de Vida Diária e Instrumentais (ADVIs), segundo a Índice de Lawton & Brody.
100% dos domicílios dos beneficiários são avaliados relativamente às condições de habitabilidade e acessibilidades, segundo instrumento criado para o efeito.
80% dos beneficiários com necessidade de Treino de Funcionalidade (AVDs e AVDIs) beneficiam desse treino.
80% dos beneficiários com necessidade de sessões de Educação Terapêutica beneficiam dessas sessões.
80% das necessidades identificadas em Ajudas Técnicas têm resposta.
70% das necessidades identificadas em Adaptações Domiciliárias são realizadas.
80% dos beneficiários com necessidades identificadas de Sessões de Reabilitação têm resposta.

OE 1.2
N.º de consultas de enfermagem (N=200).
N.º de ações de capacitação dos cuidadores/ desenvolvimento de ferramentas para o autocuidado e boas práticas no processo de cuidar previsto (N=50).
N.º de ações individuais para os utentes de Educação para a Saúde previsto (N=100).
100% dos beneficiários com necessidade têm acesso a consultas de enfermagem.
100% dos cuidadores de pessoas dependentes têm acesso a ações de capacitação e/ou ferramentas para o autocuidado e boas práticas no processo de cuidar.
100% dos beneficiários e/ou dos seus cuidadores com necessidades identificadas têm acesso a sessões individuais de Educação para a Saúde.