É voluntária da Médicos do Mundo em Lisboa, onde apoia projectos como o Saúde a Girar ou o CATR (Centro de Acolhimento Temporário para Refugiados). É médica e acredita que a organização é “uma porta aberta para a prestação de cuidados de saúde para as populações mais vulneráveis.” Para assinalar o Dia Mundial da Bondade, damos-lhe a conhecer alguns dos voluntários que nos permitem lutar contra todas as doenças até mesmo a injustiça.
“Não sendo fácil percorrer as ruas de Lisboa com esta função, a vontade de voltar dia após dia é constante.” - Ana Pinto de Oliveira
Médicos do Mundo (MdM): Como é que conheceu a Médicos do Mundo?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): Desde que me pediram para dar o meu testemunho como médica voluntária na MdM tenho tentado perceber qual o momento em que conheci a organização. Não o consigo encontrar porque de alguma forma, a MdM fez parte do meu conhecimento desde sempre. Há no entanto, a memória do dia em que me inscrevi como voluntária, numa conferência sobre o terramoto no Haiti, organizada pela MdM. Outro momento importante e do qual me recordo bem foi quando fui contactada para vos conhecer.
Médicos do Mundo (MdM): Porque razão decidiu fazer voluntariado?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): Na altura estava a realizar o primeiro ano do internato médico, e a visão hospitalocêntrica não era estimulante nem satisfatória. Pretendia mais do que isso, a ideia de poder ter um papel na redução de riscos e minimização de danos em populações vulneráveis e proporcionar –lhes cuidados de saúde, fez-me acreditar que poderia ajudar a fazer a diferença.
Médicos do Mundo (MdM): Para si, qual é a importância da intervenção da Médicos do Mundo junto das populações mais vulneráveis?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): O acesso a cuidados de saúde por parte destas populações é considerado um desafio crucial de saúde pública enfrentado pelos governos e sociedades. Embora o Serviço Nacional de Saúde seja universal, geral e tendencialmente gratuito, existem barreiras que limitam o acesso ao mesmo. A MdM garante de alguma forma a saúde destas populações, sendo um exemplo o projecto “Saúde a girar”, que proporciona cuidados de saúde a indivíduos em situação de sem-abrigo.
“O acesso a cuidados de saúde por parte destas populações é considerado um desafio crucial de saúde pública enfrentado pelos governos e sociedades.” – Ana Pinto de Oliveira
Médicos do Mundo (MdM): O que é que aprendeu ao ser voluntária da Médicos do Mundo?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): Talvez o mais importante que aprendi tenha sido perceber quais os limites da minha intervenção nestas populações. Muitas vezes temos que procurar não a cura, mas fornecer a ajuda necessária para minorar o sofrimento, tendo especial atenção à sua vontade.
Médicos do Mundo (MdM): Como tem sido a experiência de ser voluntária da Médicos do Mundo?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): Tem sido uma experiência óptima. Estou integrada numa excelente equipa onde fui muito bem recebida e onde existe uma particular boa disposição que, face ao trabalho que efectuamos, se torna indispensável. Não sendo fácil percorrer as ruas de Lisboa com esta função, a vontade de voltar dia após dia é constante.
Médicos do Mundo (MdM): Existe algum momento ou história que a tenha marcado? Qual e Porquê?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): O primeiro contacto com uma zona utilizada por muitos utilizadores problemáticos de substâncias psicoativas foi marcante, mesmo às portas de Lisboa. Estava numa fábrica abandonada e o espaço era utilizado como local de consumo e como um teto para dormir. Deslocava-me em cima de um tapete de seringas que se misturava com muito lixo. Não parecia um cenário real, mas imagens saídas de um qualquer filme de guerra. Marcou-me também o cuidado que alguém a viver naquelas condições, teve para comigo, não me deixando manusear as seringas utilizadas que estava a trocar.
Mais recentemente, o contacto com requerentes de proteção internacional, que tornou real a ideia de como o Homem pode ser egoísta e atroz nas suas acções.
Médicos do Mundo (MdM): Em suma, o que é para si a Médicos do Mundo?
Ana Pinto de Oliveira (A.P.O): É uma porta sempre aberta para a prestação de cuidados de saúde às populações mais vulneráveis.