Olá, o meu nome é Sofia Carvalho, Enfermeira, Mestre e Especialista na área da Pessoa em Situação Crítica e hoje voluntária da Médicos do Mundo.
Sabem aquelas check-list dos sonhos? Na minha, a palavra voluntariado esteve sempre presente. Desde criança que sabia que haveria de partir em Missão Humanitária Internacional, mas o mundo revelou que não somos nós a ditar as regras, e portanto nada melhor que começar a praticá-lo no meu País.
Comecei nesta aventura através de um amigo, também ele voluntário.
O conhecimento e a experiência partilhada por quem também já trilhou este caminho deu-me energia para inaugurar esta aventura com o coração aberto.
Ter na equipa multidisciplinar alguém que já vivenciou experiências diversas na área é elementar para criar empatia com quem há muito deixou de conseguir ter uma voz ativa na sociedade atual.
Vivemos numa situação de pandemia que está a afetar todas as pessoas na sociedade a nível mundial, particularmente o público mais vulnerável como as pessoas em situação de sem-abrigo. Todos sabemos que o aconselhável neste contexto seria ficar em casa de forma segura e em segurança, mas é algo que lhes é impossível. Esta missão iniciou com o Plano de Contingência para a infeção pelo SARS-Cov-2, em que foram acolhidos a maior parte das pessoas em situação de sem-abrigo em pavilhões desportivos cedidos pela Câmara Municipal de Lisboa.
Pois é acolhimento, Acolher! Uma palavra especial que hoje em dia revejo com um significado diferente. O acolhimento decorre de uma relação humanizadora, que inclui o sujeito, contexto social e ambiência. Não se restringe a um espaço ou um local, mas sim a uma postura que implica a partilha de saberes envolvendo a equipa que escuta e tenta resolver os problemas existentes com estas pessoas.
O nosso foco enquanto Profissionais de Saúde na área é a assistência médica e o apoio psicológico, essencialmente o despiste de sintomas frequente, bem como prevenção e controlo de infeção, evitando assim situações de contaminação, bem como o desenvolvimento de projetos de reintegração destas pessoas na sociedade.
Têm sido meses intensos, tornou-se quase impossível descrever o que se tem ali vivido. Apenas quem tem oportunidade de experienciar algo tão inexplicável é capaz de compreender o que é alimentar a alma. São situações de vivenciar e fazer parte da vida destas pessoas que nos fazem mais humanos e mais conhecedores de nós mesmos.
Aprendi a ser feliz com coisas simples, com momentos, com sorrisos escondidos.
Vulneráveis, mas determinados vamos traçando o nosso caminho, revertendo a doença em saúde, o medo em cuidado, a fraqueza em solidariedade, a mascara em sorrisos com a esperança de uma vida melhor.
Este é o meu caminho, o meu propósito. Obrigada a todos aqueles, que fechados nos seus silêncios abriram um pouco dos seus mundos.
Trabalhar com a Médicos do Mundo e todos os elementos de várias associações e organizações que fazem parte deste projeto é-me extremamente gratificante! Um bem haja pelo trabalho que fazem diariamente.
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