Um ano depois dos terramotos devastadores, que causaram a morte de mais de 58 mil pessoas e milhões de deslocados, em resultado da destruição generalizada de habitações e infraestruturas no sudeste da Turquia e no noroeste da Síria, a Rede Internacional da Médicos do Mundo (MdM) apela à continuidade da assistência, para responder às enormes necessidades da população afetada. Apesar dos progressos no esforço de recuperação, os terramotos tiveram um impacto profundo, com a perda de milhares de vidas e milhões de pessoas afetadas. 

"As comunidades demonstraram uma resiliência notável face à catástrofe, mas as pessoas continuam a enfrentar circunstâncias extremamente difíceis", refere Hakan Bilgin, presidente da MdM Turquia. "Muitas pessoas nas regiões afetadas pelo terramoto na Turquia, especialmente as que perderam as suas casas e os seus rendimentos, continuam a enfrentar desafios na resposta às suas necessidades diárias, tais como fazer face às despesas com alimentação, renda e outras necessidades essenciais, incluindo de saúde. Levar uma vida 'normal' continua a ser difícil", acrescenta.

 

As dificuldades económicas obrigaram muitas pessoas a acumular dívidas, ao tentar recuperar e reconstruir as suas fontes de rendimento. O desemprego, o acesso limitado a respostas às necessidades básicas e os enormes problemas de saúde mental constituem um risco para a saúde e para a proteção contra a violência baseada no género (VBG), que tem vindo a aumentar. A falta de privacidade causada pelas condições precárias e sobrelotação de tendas e abrigos, os incidentes de VBG, como a violência doméstica, a violência sexual e a exploração sexual, o abuso e o assédio, o trabalho infantil e o casamento precoce, têm tendência a aumentar na região, um ano depois dos terramotos.

Os problemas na satisfação das necessidades básicas, como água potável e instalações sanitárias, resultaram na propagação de doenças transmissíveis, como sarna, piolhos e cólera, bem como em problemas físicos e mentais.

Na Síria, a realidade é ainda mais terrível devido aos efeitos combinados dos terramotos e dos 13 anos de conflito, que agravam as dificuldades de recuperação.

"Embora a fase de resgate da resposta à catástrofe possa ter terminado, a situação de emergência persiste", afirma Mustafa El Othman, coordenador do programa da MdM Turquia, acrescentando que “atualmente, existe uma necessidade premente de assistência humanitária, para dar resposta às necessidades imediatas das pessoas, aumentar a sua capacidade de resiliência e levar a cabo a tarefa crucial de reabilitar as infraestruturas essenciais e os serviços comunitários, que estão à beira do colapso".

A Rede Internacional da MdM está no centro da resposta de emergência pós-terramoto, desde o primeiro dia. 

 

As equipas prestam ajuda imediata às comunidades afetadas, incluindo cuidados de saúde primários, saúde sexual e reprodutiva, saúde mental e apoio psicossocial, assim como proteção e disponibilização de um sistema básico de água, saneamento e higiene, através das suas unidades móveis de saúde, um espaço seguro para mulheres e crianças em Hatay, na Turquia, e 11 centros de saúde em Aleppo, Idlib e Hama, no noroeste da Síria. 

Desde os primeiros dias após os terramotos, as equipas de saúde da MdM prestaram 33.450 consultas de saúde a 26.531 pessoas afetadas pelo terramoto na província de Hatay. Estas consultas incluem o tratamento de doenças crónicas, como diabetes, bem como de doenças transmissíveis, como sarna e piolhos. 

Os enfermeiros e as parteiras da MdM também realizaram atividades de literacia em saúde de grupo, sobre higiene e temas relacionados com a saúde sexual e reprodutiva, prestando cerca de cinco mil consultas de saúde sexual e reprodutiva, como cuidados pré e pós-natais e atividades de planeamento familiar, e realizaram o encaminhamento de doentes para os ginecologistas da MdM disponíveis no espaço seguro que foi criado. 

Além disso, os técnicos de apoio psicossocial e os psicólogos clínicos da MdM prestaram aconselhamento individual e em grupo a homens, mulheres e crianças expostos a traumas. Os técnicos de apoio psicossocial conduziram ainda sessões em grupo com a participação de mais de 7.100 pessoas.

Na Síria, já muito devastada pela guerra e fortemente atingida pelo terramoto de 6 de fevereiro, a MdM prestou serviços médicos aos beneficiários afetados, através da mobilização de três unidades móveis de saúde, 11 centros de cuidados de saúde primários e dois centros comunitários, incluindo serviços de cuidados primários de saúde, saúde sexual e reprodutiva e saúde mental e apoio psicossocial, bem como serviços de enfermagem e de farmácia externa nos serviços de saúde mental e apoio psicossocial. 

No total, a MdM prestou mais de 425.321 serviços de saúde a mais de 200 mil pessoas, através de unidades móveis de saúde, clínicas de cuidados de saúde primários e centros comunitários, bem como da gestão de casos e disponibilização de kits de dignidade, higiene e maternidade às populações afetadas pelo terramoto em toda a Turquia e na Síria.

Uma vez que continua a existir a necessidade de apoio, a Rede Internacional da MdM incentiva à continuidade da assistência, para ajudar as comunidades a recuperar e reconstruir.

 

A MdM na Turquia e Síria

A MdM conta com operações no terreno, através das delegações de França, Turquia e Espanha.

Com base em Amã, na Jordânia, a MdM França trabalha na Síria desde 2008. Através de parcerias com organizações não-governamentais médicas locais, a MdM França apoia indiretamente uma rede de centros de cuidados de saúde primários, unidades móveis de saúde e centros comunitários, em áreas controladas pelo governo sírio. 

A MdM Turquia presta serviços de saúde a pessoas em situação de vulnerabilidade e deslocadas na Síria e na Turquia desde 2016. A partir da sua sede em Antáquia, na província de Hatay, na Turquia, opera diretamente nove instalações de saúde transfronteiriças e unidades móveis, e apoia um hospital cirúrgico em Alepo Ocidental e Idlib, no noroeste da Síria. Na Turquia, a MdM Turquia presta serviços de proteção e saúde a refugiados e migrantes indocumentos, em Manisa, Izmir e Hatay.

Através das autoridades sanitárias locais, a MdM Espanha presta serviços médicos essenciais a pessoas afetadas pelo terramoto, através de seis centros de cuidados de saúde primários, em Kobane (Ayn Al Arab), situada nas áreas autoadministradas da região nordeste de Alepo, na Síria.

 

Clique na imagem abaixo para aceder ao Relatório 1 ano dos Terramotos na Turquia e Síria da MdM.

Disponível apenas em inglês.