A avaliação debruçou-se sobre o prazo previsto para o regresso, os desafios e o tipo de apoio necessário para uma reintegração bem-sucedida e sustentável. Esta análise visa defender junto das partes interessadas a abordagem das necessidades humanitárias das comunidades deslocadas face às mudanças contextuais.
Realizada entre 12 e 16 de dezembro de 2024, a avaliação baseou-se em entrevistas com autoridades locais e equipas responsáveis pela gestão de campos de deslocados em oito locais nas províncias de Alepo e de Idlib, que no total albergam cerca de dois milhões de PDI.
Principais resultados
Decisão de regresso
Quase metade (41%) da comunidade prefere esperar pela plena estabilidade antes de regressar, enquanto 38% não têm intenção imediata de regressar, refletindo uma incerteza significativa. Um retorno gradual é antecipado por 18%, mas apenas 3% planeiam regressar imediatamente.
Os prazos para o regresso também variam: 44% esperam regressar dentro de 6 meses a um ano, 30% preveem regressar dentro de 3 a 6 meses e 20% antecipam que levará mais de um ano. A percentagem daqueles que regressariam nos próximos três meses é de apenas 6%.
Principais motivações e barreiras
As principais motivações para o regresso incluem o desejo de restaurar propriedades, um forte sentimento de nostalgia pela sua terra de origem, a reunificação com membros da comunidade e fatores práticos como oportunidades de emprego, melhoria da segurança, educação para as crianças e acesso a cuidados de saúde.
No entanto, barreiras significativas impedem estes planos. Estas incluem a falta de serviços básicos e de habitação, infraestruturas destruídas, restrições financeiras, preocupações de saúde e ameaças à segurança, como minas terrestres.
Apoio necessário
Os preparativos para o regresso concentram-se principalmente na reconstrução de casas, na restauração de serviços essenciais—particularmente cuidados de saúde -, na garantia de segurança e na colaboração e coordenação com organizações humanitárias.
Muitos dos inquiridos enfatizam a necessidade de desminagem e remoção de engenhos explosivos não detonados para garantir retornos seguros. A comunidade identifica medidas de apoio críticas, incluindo a reabilitação de infraestruturas, acesso a materiais de construção, assistência financeira e a melhoria de serviços de saúde. Após o regresso, as prioridades centram-se em garantir emprego, aceder a cuidados de saúde e contribuir ativamente para a reconstrução das suas comunidades.
Preocupações
Persistem preocupações com a falta de apoio governamental, serviços de saúde, riscos de segurança e acesso limitado à educação. Os resultados sublinham a complexidade dos planos de regresso, que são fortemente influenciados pelas condições de segurança, disponibilidade de serviços e apoio externo.
Recomendações
Os resultados da avaliação enfatizam a necessidade urgente de ações coordenadas e direcionadas para apoiar as populações deslocadas nos seus esforços de regresso e reconstrução. Para isso, é preciso um esforço colaborativo de doadores, responsáveis políticos e autoridades competentes.
As seguintes recomendações visam defender as necessidades humanitárias das comunidades deslocadas, instando os doadores e responsáveis políticos a apoiarem efetivamente os planos de regresso às terras de origem.
Aos doadores:
· Priorizar o financiamento multissetorial, alocando recursos para a reabilitação de infraestruturas, cuidados de saúde e educação, juntamente com programas de subsistência que promovam a resiliência económica.
· Apoiar retornos sustentáveis, desenvolvendo mecanismos de financiamento em linha com objetivos de desenvolvimento a longo prazo, e garantindo que as populações deslocadas possam reintegrar-se com sucesso nas suas comunidades.
· Investir em segurança e em esforços de desminagem, aumentando o financiamento de organizações especializadas em atividades de desminagem e fortalecendo a capacidade local para abordar questões de segurança, por forma a criar ambientes mais seguros.
Às autoridades responsáveis:
· Coordenar com parceiros humanitários, para garantir uma resposta coesa e eficiente às necessidades das populações deslocadas.
· Garantir abordagens participativas, envolvendo ativamente as comunidades deslocadas nos processos de tomada de decisão, para garantir que as intervenções estejam alinhadas com as suas prioridades.
· Monitorizar o retorno, através do estabelecimento de mecanismos robustos que acompanhem o progresso e abordem prontamente os desafios emergentes, apoiando a reintegração e a estabilidade a longo prazo.
· Garantir condições de vida seguras em todo o país, através do reforço da aplicação da lei local e da organização de canais de comunicação e reporte, contribuindo para a criação de um ambiente seguro nas localidades de retorno.
A Médicos do Mundo na Síria
A Médicos do Mundo iniciou as suas atividades na Síria em 2008, através da prestação de cuidados de saúde primários na província de Alepo, em parceria com o Crescente Vermelho Árabe Sírio (SARC), antes do início do conflito. Ao longo dos últimos 14 anos, a Médicos do Mundo implementou diversas ações de assistência médica e humanitária para proporcionar acesso a cuidados de saúde e ajuda humanitária à população síria afetada pela guerra. Estas ações incluem cuidados médicos de emergência, serviços de saúde sexual e reprodutiva, consultas sobre doenças transmissíveis e não transmissíveis, saúde mental e apoio psicossocial, especialmente para grupos vulneráveis como crianças e mulheres.