Olivier Papegnies

A remoção dos escombros está a causar novas doenças relacionadas com o amianto e as poeiras. No terreno, desde o terramoto, a Médicos do Mundo já apoiou 17 mil pessoas na Turquia e 83 mil na Síria.

Seis meses após o terrível terramoto que atingiu o sudeste da Turquia e o nordeste da Síria, a 6 de fevereiro de 2023, e que afetou 15 milhões de pessoas, a população está exposta a um novo risco para a saúde. A remoção dos escombros está a causar novas doenças relacionadas com o amianto e as poeiras, com uma subida potencial da incidência de cancro a longo prazo. A Médicos do Mundo (MdM) já observa um aumento de casos de conjuntivite, de asma alérgica e de reações cutâneas. 

Além disso, o tempo quente e a falta de água potável favorecem a reprodução de microrganismos e de insetos, provocando um aumento dos casos de sarna e de gastroenterite. Esta situação é também acentuada pelo espaço habitacional lotado (tendas e contentores), onde a maioria das pessoas foi realojada desde o terramoto, e pelo risco de epidemias, como a febre tifoide, a cólera e a tuberculose.

Tal como refere Cuma Ali Özbek, responsável pela gestão da emergência no terreno da Médicos do Mundo em Hatay, Antakya,"[...] com o tempo quente, os edifícios que estavam gravemente danificados e em risco de ruir começaram a ser gradualmente demolidos. Em resultado deste processo de demolição, surgiu a ameaça do amianto. O amianto é um material perigoso e nocivo para a saúde humana. Um estudo efetuado pela Câmara de Engenheiros Ambientais encontrou amianto em aproximadamente um em cada dois edifícios. Este facto representa um grave perigo para as pessoas, especialmente nesta zona. [...] O aumento das doenças do trato respiratório superior ainda persiste e as nossas equipas móveis continuam a prestar cuidados de saúde primários, tanto nas zonas rurais, como nas zonas centrais”.

MdM_TurquiaOlivier Papegnies

 

Mulheres e crianças estão mais vulneráveis

As mulheres, tal como as crianças, continuam a estar particularmente vulneráveis e são quem mais sofre com a catástrofe, ao ter de cuidar das suas famílias numerosas e encontrar alimentos, procurando cozinhar, lavar ou limpar onde há água disponível. Das 356 mil mulheres grávidas identificadas nas áreas afetadas pelo terramoto, 39 mil deverão dar à luz nas próximas semanas. A falta de instalações sanitárias e de limpeza, por exemplo, é uma grande fonte de angústia.

"Com base nas avaliações das nossas equipas móveis, no âmbito das nossas atividades no terreno após o terramoto, observámos que as mulheres e as crianças, em particular, tinham dificuldades em aceder a vários serviços e em criar espaços privados para si próprias. Em resposta, criámos um espaço seguro. [...] As pessoas que entram no espaço seguro podem beneficiar de uma vasta gama de serviços, incluindo apoio psicossocial, serviços de proteção, serviços de saúde sexual e reprodutiva, exames médicos, acesso a chuveiros e lavandarias e a um cabeleireiro. Isto permite-lhes criar um espaço privado para si próprias e sentirem-se confortáveis e à vontade, enquanto ultrapassam os obstáculos no acesso a estes serviços", acrescenta Cuma Ali Özbek.

MdM já apoiou 100 mil pessoas

Nos primeiros dias após o terramoto, a MdM enviou equipas médicas para apoiar o sistema de saúde e ultrapassar a falta de cuidados de saúde primários, bem como determinadas necessidades específicas. Desde fevereiro de 2023, a MdM apoiou 17 mil pessoas nas regiões de Hatay e de Antakya (Turquia), com mais de 12 mil consultas médicas e sessões de apoio psicossocial individuais e coletivas a cinco mil pessoas, e prestou serviços de cuidados de saúde primários a mais de 83 mil pessoas em Afrin e Idlib (Síria). 

A MdM tem ainda como objetivo aumentar os seus serviços na região, incluindo o número de espaços seguros, em colaboração com as autoridades públicas e locais, bem como com outras Organizações Não Governamentais (ONG) que operam na região.