No passado dia 19 de Outubro, a Médicos do Mundo esteve em Coimbra no primeiro Encontro Saberes Partilhados - Encontro Nacional de Equipas de Rua. Numa iniciativa organizada pela Associação Integrar, várias equipas partilharam as experiências e dificuldades no terreno. O Saúde a Girar e o Porto Escondido marcaram presença e deram o seu testemunho.

Várias equipas, de Norte a Sul do país, apresentaram o seu trabalho e partilharam os principais desafios e dificuldades da sua intervenção. As situações reportadas mostraram-se inerentes a todas as equipas que trabalham no terreno com populações vulneráveis, especialmente as pessoas em situação de sem abrigo.

“Achei bastante curioso. Apesar da diversidade de instituições, as dificuldades sentidas são as mesmas.  No Porto, em Coimbra, em Lisboa e até no Algarve se sente bastante dificuldade em alojar pessoas sem-abrigo. Por um lado não há vagas em alojamentos sociais e as pensões cada vez são mais escassas e por outro, os valores são cada vez mais absurdos.” – Afirma Francisca Jesus, enfermeira na equipa de rua da delegação norte da Médicos do Mundo.

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Neste encontro as equipas debateram vários temas, entre as respostas existentes na área da Saúde Mental, especialmente para pessoas sem cartão de cidadão válido ou imigrantes e a mais valia da integração de um educador de pares nas suas equipas técnicas, como “mediadores” ou “pontes de ligação” no trabalho com as populações no terreno.

Francisca Jesus, enfermeira no projecto “Porto Escondido”, da Médicos do Mundo, apresentou o trabalho que é realizado no terreno e confirmou a importância de um educador de pares: “‘Confesso que quando integrei a equipa de rua não percebia muito bem qual a função a desempenhar pelo meu colega - Educador de Pares. 

A verdade é que com o passar do tempo e do trabalho... nada faria mais sentido. A linguagem, a abordagem, a postura. O conhecimento, as experiências de vida, o sentido verdadeiro de um ‘eu entendo’ (porque efectivamente passou pelo mesmo). O quão facilitada está a nossa intervenção em locais ‘de risco’, o quão ‘protegidas’ estamos das banais e comuns ‘mentiras’. 

E nao imaginam o quão rico é poder juntar o conhecimento técnico da Enfermagem, da Psicologia, do Serviço Social ao conhecimento de uma vida, ao verdadeiro saber como fazer, como actuar... como estar.’”

Por outro lado, a equipa do “Saúde a Girar” apresentou o seu trabalho junto da população-alvo e falou do Diagnóstico da População em Situação de Sem-Abrigo da cidade de Lisboa e do Plano Municipal de Saúde para a População em Situação de Sem Abrigo, documentos nos quais a Médicos do Mundo está a colaborar activamente.

“A especificidade do tipo de intervenção do projecto foi reconhecida como uma mais valia para a saúde da população-alvo, destacando-se a intervenção de proximidade, numa perspectiva de integração das pessoas no Serviço Nacional de Saúde, apoiando-as na gestão dos seus processos de saúde/doença, num sentido de empowerment dos indivíduos.” – revela Joana Tavares, enfermeira no projecto “Saúde a Girar”.

 

As equipas de rua mostraram-se agradadas com a iniciativa que promoveu a actividade reflexiva acerca de problemáticas multifactoriais ligadas às Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, a Redução de Riscos e Minimização de Danos, e as assimetrias e desafios na intervenção nos diferentes contextos e regiões do país.