Foi num momento de discernimento e de dúvidas enormes que a “Missão Esperança”, da ONG Médicos do Mundo (MdM), surgiu na minha vida. Durante 2 semanas, estive em Castanheira de Pera com com um grupo de jovens profissionais e universitários ligados à Companhia de Jesus (Jesuítas) e inseridos na “Missão Aqui e Agora”, cujo objetivo era colaborar com a MdM naquilo que necessitassem. E, a certa altura cheguei a sentir que, naquele momento, não havia outro lugar no mundo onde me sentisse mais chamado a estar do que em Castanheira de Pera.

Durante este período inicial em Castanheira, tive a felicidade de andar pelas estradas com a equipa técnica, que visitava as pessoas que foram afectadas pelo incêndio. Um trabalho com momentos difíceis pelas histórias que ouvimos, mas que me encheu de uma enorme alegria por ver a magia das pessoas de Castanheira. Esta magia, fez-me diversas vezes questionar onde iriam estas pessoas que perderam casas, amigos e familiares, todo o trabalho de uma vida, animais, etc., buscar tanta força? A resposta que encontro é a Deus. Deus que os protegeu, que os protege, que os cuida mesmo na adversidade! - Pessoas com a capacidade de nos ensinar a adorar e confiar cegamente Nele. Que lições de vida contagiantes! Não podia escrever um texto sobre a minha experiência na missão sem destacar os escombros!

O entulho das casas destruídas foi outro dos trabalhos desempenhados, algo que custava de muitas maneiras. Primeiro porque estávamos a limpar uma casa destruída e podíamos "imaginar" o que tinha acontecido. Segundo porque era entrar no íntimo e na vida das pessoas, remexer na vida de alguém. Por último, pelo cansaço.

Testemunho

 

Questiono-me muitas vezes que magia será esta que este concelho possui e nos faz voltar… Para mim, são, sem dúvida, as pessoas.

Cada castanheirense é único. Pessoas tão peculiares, tão cheias de alegria, tão cheias de amor, tão cheias de Jesus e com uma fé enorme. (Além de personagens incrivelmente hilariantes!) Sejam as pessoas, seja Deus sempre tão presente na missão, a verdade é que regresso a Castanheira de Pera e de lá não consigo sair. E, por isso, após aquelas duas semanas iniciais, comecei a deslocar-me até Castanheira sempre que tenho disponibilidade, algo que nem sempre era fácil por motivos profissionais e/ou de estudo.

Ao longo deste ano, desempenhei as mais diversas atividades nos mais diferentes locais de trabalho.

Os locais de trabalho dividiram-se entre a praça da notabilidade - que no início se tornou o armazém da farmácia, de produtos alimentares, de higiene e de água, onde se faziam kits para as famílias - e os armazéns da louça e da roupa - onde estavam toneladas de coisas e era preciso uma enorme organização para fazer a seleção, catalogar e pôr à disposição das famílias.

Aquilo que me custava mais era, precisamente, fazer a triagem do armazém da roupa. Ver uma imensidão de sacos de roupa (parecia infinita), separar, selecionar, carregar cerca de 50 toneladas de roupas para camiões e ainda sobrar muito mais do dobro! Era absolutamente surreal. Tive o privilégio de ver o início e o dia em que este armazém ficou vazio; Foi uma sensação de dever cumprido incrível. Um local pelo qual passaram imensos voluntários com enorme sacrifício, finalmente, pronto.

Testemunho

 

O fórum é local onde os voluntários dormem e onde se fazem as refeições. Aqui pude também cozinhar diversas vezes para um grande número de pessoas e ter de usar a criatividade ao máximo. É aqui também que as equipas de trabalho se encontram. Um lugar de fortalecimento do pilar da comunidade que é essencial numa missão como esta.

Entre outras coisas, a coisa mais importante que a “Missão Esperança” faz não se vê, só se pode sentir. Trata-se de levar uma imensidão de alegria e amor a Castanheira. Sermos dia a dia pedacinhos de Deus e participantes muito ativos e presentes dessa esperança.

Um ano depois, decidi passar parte do verão em Castanheira de Pera. A vida proporcionou-me essa disponibilidade. E, em Castanheira, na missão e nas pessoas que dela fazem parte, sinto-me no meu lar. Um lar é um local de conforto, de amor, de cuidado, de proteção, de abrigo, de crescimento. Acho que não há motivo mais sincero para esta ligação que criei com os Médicos do Mundo. Numa palavra, são família.

Testemunho

 

Mensagem para futuros voluntários:

Coloquem-se nas mãos de Deus. Às vezes vai haver atividades super incríveis, outros dias serão passados a cortar batatas. Há tarefas que são enormes, outras que são menores. Mas, sem as pequenas, as grandes são impossíveis. Vejam cada missão que vos é colocada como parte do grande bolo que é o dia a dia de missão.

Partilho, ainda, uma história que me é muito especial:

"Havia uma pessoa que tinha imensa vontade de mudar o mundo, mas sozinha achava que nada podia fazer. Um dia, estava sentada ao lado de uma outra pessoa e perceberam que ambos eram pessoas cheias de bem, cheios de amor e com a mesma vontade de tornar o mundo um local melhor. Dois juntos, já torna as coisas mais possíveis, provavelmente se nos sentarmos ao lado de outra pessoa, iremos encontrar outro alguém que tem os mesmos sonhos que nós e passámos a ser três."

Isto, sucessivamente, faz-nos criar um grande grupo de pessoas que se derem as mãos, podem mudar imensa coisa. Para mim, isto são os Médicos do Mundo, isto é a “Missão Esperança”.

Termino com esta ideia: agora vem e faz tu também o mesmo, os Médicos do Mundo vão tornar-se também parte da tua família.