A Médicos do Mundo realizou uma missão de três semanas ao Hospital de Cumura, na Guiné-Bissau, onde promoveu sessões de formação para profissionais de saúde, a melhoria das condições de trabalho e a organização dos serviços.

A Médicos do Mundo (MdM) realizou, no final do ano passado, uma missão ao Hospital de Cumura, situado no setor de Prábis, região de Biombo, a 14 quilómetros de Bissau, capital da Guiné-Bissau, em parceria com a Ser Mais Valia, TAP Air Portugal e HumanitAVE.   

Esta missão de três semanas teve como objetivos a realização de ações de formação, em sala de aula, para profissionais de saúde daquele hospital, operacionalização de ações de formação em contexto de trabalho, lado a lado com os profissionais, na rotina diária assistencial, a colaboração na organização dos serviços destinados à prestação de cuidados e serviços de apoio, assim como a melhoria das condições de trabalho

O Hospital de Cumura iniciou a sua atividade em 1945, com a decisão de instalar nessa região a Leprosaria da Guiné, mantendo-se em atividade, com capacidade para 180 camas e 170 trabalhadores. A atividade assistencial divide-se em dois pólos que distam entre si cerca de 750 metros. A unidade hospitalar é uma referência nacional para o tratamento da Lepra, HIV, tuberculose pulmonar, que disponibiliza 24 horas por dia os serviços de urgência, maternidade e internamento.

Ações de formação para profissionais de saúde

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A MdM realizou cinco ações de formação em sala de aula: abordagem da vítima crítica (com a presença de 44 profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros), reanimação neonatal e apoio à transição (36 profissionais), suporte básico de vida pediátrico (31 profissionais), suporte básico de vida adulto (26 profissionais) e abordagem da vítima em choque (20 profissionais).  

Em termos de ações de formação em contexto de trabalho, três voluntários (um médico e dois enfermeiros) deslocaram-se diariamente ao hospital para trabalhar lado a lado com os profissionais locais, em áreas como: prestação de cuidados de higiene e conforto; preparação e administração de terapêutica; técnicas de enfermagem (punção venosa, cateterização vesical, oxigenoterapia, posicionamentos, cuidados de penso, monitorização, registos); e partilha de experiências.  

Organização dos serviços

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A colaboração com os profissionais do Hospital de Cumura na organização dos serviços destinados à prestação de cuidados e serviços de apoio incluiu diferentes atividades como: limpeza dos armários de apoio à atividade assistencial; organização do material e fármacos, de acordo com as necessidades locais identificadas; etiquetagem de todo o material existente na sala de tratamentos, sala de urgência e unidade de cuidados intensivos. 

Melhoria das condições de trabalho

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Ao nível da melhoria das condições de trabalho dos profissionais da unidade de saúde, procedeu-se à aquisição e montagem de quatro ventoinhas e de um ar condicionado na cozinha e na farmácia hospitalar, para além da aquisição e alocação de caixas adequadas para armazenamento de fármacos e material clínico. 

Outras atividades não previstas inicialmente

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Com vista a responder às necessidades encontradas no terreno pela equipa, foram desenvolvidas outras atividades, não previstas inicialmente, em articulação com os profissionais de saúde locais.

Entre estas atividades estiveram uma ação de formação na Escola Nacional de Saúde para 42 enfermeiros, a frequentar o 4º ano de complementos de formação em enfermagem sobre eletrocardiograma; a reorganização do serviço de farmácia; a dinamização da sala de diversão para crianças internadas na pediatria e Centro de Recuperação Nutricional de Internamento (CRENI); e a reorganização estrutural e equipamentos do futuro serviço de urgência de pediatria

“…Um desafio profissional e emocional gigante.”

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Testemunho de Márcio Silva
Enfermeiro e Chefe de Missão

“Voltar à Guiné-Bissau foi para mim um desafio profissional e emocional gigante. O que não sabia é que me iria voltar a apaixonar pelo país, pelas pessoas, emergindo uma vontade crescente de em conjunto com quem quer fazer parte da solução, contribuir para a mudança de uma Républica aparentemente condenada ao insucesso. 

Ao longo destas três semanas foi evidente, a urgência real que existe de inverter o estado sociopolítico do país e desta forma contribuir para uma saúde mais justa para todos e para todas. Não seria suposto na era da digitalização, no momento em que o Homem viaja até à lua, controla o aquecimento, máquina de lavar roupa, aspiradores, desde o seu telemóvel, que às portas dos países de renda alta existam crianças a morrer desnutridas, mães a morrer durante o trabalho de parto, falta de medicamentos para dar resposta às situações de urgência e outras tantas situações que para nós são de tal forma banais, que nem encontramos espaço para as contemplar no nosso discurso diário. 

No entanto o que mais me chocou foi sentir a inexistência de um programa de promoção de saúde, prevenção da doença e ausência de trabalho junto das comunidades. Um trabalho que identifique necessidades e vá ao encontro das realidades do povo. Considero que o caminho tem de começar por aqui, com e para as pessoas.”