Médicos do Mundo (MdM): Como é que conheceste a Médicos do Mundo e desde quando é que apoias a organização?
Mafalda Paquete (MP): Foi em Agosto de 2017 que comecei esta viagem com a Médicos do Mundo quando tinha apenas 19 anos. Depois de ter decidido que queria, de que maneira fosse, ajudar as vítimas dos incêndios de Pedrogão, fui com uma amiga até Castanheira de Pera e encontrei a organização.
Fiquei integrada na Missão Esperança mais de um ano e, embora estivesse a viver no Porto, voltava a Castanheira sempre que podia.
Enquanto isso, conheci o projecto Porto Escondido e desde Setembro de 2017 que faço parte da equipa de voluntários.
Mafalda Paquete tem 21 anos, é estudante de medicina e voluntária da Médicos do Mundo. Faz parte da equipa de rua do projecto Porto Escondido e dá, todos os dias, um pouco de si a quem encontra na rua. Esta ajuda só é possível graças a uma Unidade Móvel de Saúde, a qual precisa de ser substituída para podermos continuar a nossa missão junto de quem mais precisa.
“Eu gosto de pensar que a nossa Unidade Móvel representa, para tantas pessoas, um porto de abrigo. Para além disso, este é o nosso escritório. O nosso gabinete. É lá que a Equipa Técnica de Rua trabalha todos os dias. Inevitavelmente, as condições em que trabalhamos afectam diretamente o serviço que prestamos. Para além de devidamente equipada e identificada, este deve ser um local confortável e seguro para todos os que nele trabalham e principalmente para todos os que a ele recorrem. “ – Mafalda Paquete, voluntária da Médicos do Mundo
Ajude-nos a ajudar!
São muitos quilómetros de dedicação e serviço ao próximo, garantindo a sua dignidade, bem como o acesso igualitário e gratuito a cuidados de saúde primários, os quais não podem ser descontinuados. Para tal, precisamos de si! Ajude-nos a adquirir uma Unidade Móvel de Saúde devidamente equipada e junte-se a nós na luta contra todas as doenças, até mesmo a injustiça.
MdM: Porque razão decidiste fazer voluntariado no projecto Porto Escondido?
MP: Desde que me conheço que tenho particular interesse em trabalhar com esta população vulnerável. Mesmo antes de ter maturidade para entender este assunto e a sua complexidade, já me questionava sobre a importância que todos aqueles que trabalhavam em equipas de rua podiam ter para estas pessoas. Pelo simples facto de os procuraram e se preocuparem.
Antes de conhecer a Médicos do Mundo, já tinha saído para a rua com várias equipas para entregar comida e roupa. Ainda assim sentia que faltava alguma coisa. Que podia fazer mais. Quando surgiu a oportunidade de integrar o projecto Porto Escondido, pensei que poderia juntar o melhor dos dois mundos. Não perdia a hipótese de trabalhar o contacto com o utente e estaria envolvida num projecto de redução de riscos para a saúde publica (com o qual, enquanto estudante de medicina, me sinto muito próxima).
MdM: Para ti, qual é a importância desta Equipa Técnica de Rua na cidade do Porto?
MP: A grande maioria das pessoas que recorrem à Médicos do Mundo vivem isoladas. Seja qual for a razão ou a história que as levou até ali, quando as encontramos já não têm a quem recorrer. E a Equipa Técnica de Rua aparece aqui. Somos nós que nos dirigimos até eles. Não nos mantemos num escritório ou gabinete à espera de sermos procurados. Não os retiramos daquele que é um local seguro para eles para que possamos conversar.
Com este projecto conseguimos adaptar o serviço que prestamos à realidade de cada utente nosso. E é isso que os começa a fazer sentir parte de alguma coisa.
MdM: Como é que descreverias a importância da Unidade Móvel de Saúde na intervenção da Equipa Técnica de Rua?
MP: A Unidade Móvel da equipa técnica de rua é o nosso cartão de visita. É assim que somos distinguidos pela população no geral e, principalmente, pelos nossos utentes. Há processos neurológicos que nos fazem associar determinados objectos a determinados sentimentos. Eu gosto de pensar que a nossa Unidade Móvel representa, para tantas pessoas, um porto de abrigo. Para além disso, este é o nosso escritório. O nosso gabinete. É lá que a Equipa Técnica de Rua trabalha todos os dias. Inevitavelmente, as condições em que trabalhamos afectam diretamente o serviço que prestamos. Para além de devidamente equipada e identificada, este deve ser um local confortável e seguro para todos os que nele trabalham e principalmente para todos os que a ele recorrem.
MdM: Que mensagem gostarias de deixar às pessoas que nos apoiam (voluntários e doadores)?
MP: Estamos no caminho certo. Acredito que sempre que acabamos alguma coisa com a sensação de dever cumprido é sinal de que fizemos a nossa parte. E é isso que importa. Fazermos a nossa parte. Não podemos mudar o mundo, mas podemos e devemos fazer a nossa parte. Sempre que vejo que o número de pessoas em situação de sem abrigo em Portugal está a diminuir ou que a taxa de incidência de HIV tem descido, sinto-me parte disto. E não há nada mais gratificante que isso. Estamos todos, voluntários e doadores, a trabalhar para um objectivo comum. E que objectivo! Uma sociedade mais inclusiva, onde todos temos direito a um acesso igualitário e gratuito aos cuidados de saúde. A uma sociedade que luta contra todas as doenças. Sendo a injustiça a mais perigosa delas todas.
MdM: Em suma, o que é para ti a Médicos do Mundo?
MP: A Médicos do Mundo e em particular o projecto Porto Escondido são, para mim, a representação institucional daquilo em que mais acredito. Todos temos direito a uma segunda oportunidade. A nossa vida não tem que ficar decidida com base numa má escolha que tivemos um dia. Aliás, digo mais: Não tenho que saber qual, quando ou o porquê dessa má escolha para ajudar aquele que me procura. Acredito numa sociedade em que partilhamos todos os mesmos direitos. E o acesso aos cuidados de saúde não pode ser negado a ninguém.