Gabriella tem 10 anos e fugiu com a mãe do seu país de origem, em África, para Portugal: ambas eram vítimas de violência doméstica. À chegada, foram sujeitas a detenção administrativa, até decisão sobre a sua situação em território nacional. A detenção pode estender-se a 60 dias, no máximo, e não é raro vermos crianças que acompanham os pais.
A menina e a mãe ficaram no Espaço Equiparado a Centro de Instalação Temporária (EECIT) do Aeroporto de Lisboa e foi aqui que as conhecemos. Neste espaço trabalham dois agentes de vigilância e dois ou mais agentes policiais (sempre vestidos à civil), em horários rotativos. A par do gabinete destinado à Médicos do Mundo, existem espaços reservados a outros parceiros, como a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA), Conselho Português para os Refugiados (CPR) e Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Além de Lisboa, a nossa equipa do projeto “Embarque na Saúde” fornece apoio aos migrantes sujeitos a detenção administrativa também nos EECIT dos Aeroportos do Porto e de Faro, assim como no Centro de Instalação Temporária (CIT) e na Unidade Habitacional de Santo António (UHSA), no Porto.
Gabriella sofre de drepanocitose parcial, uma doença genética que tem origem numa mutação de um gene da hemoglobina. Convive com esta doença há alguns anos e com os sintomas que a mesma provoca: anemia, cansaço, dores agudas nas articulações dos braços e pernas, sobretudo quando a temperatura desce...e ela só trouxe roupa de verão na bagagem...e é por enquanto a única criança neste espaço...
A nossa equipa assegura cuidados básicos de saúde e vigilância sanitária a migrantes, que por se encontrarem nesta situação, não estão abrangidos pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). Disponibilizamos consultas médicas e de enfermagem, monitorizamos os regimes terapêuticos e encaminhamos, se necessário, os beneficiários para as estruturas competentes.
A capacidade máxima no EECIT do Aeroporto de Lisboa é de 25 cidadãos e divide-se em duas alas idênticas: masculina e feminina. Existem ainda um quarto de casal ou de família, na ala feminina, e um espaço para recolhimento e práticas religiosas. Ambas as alas têm uma área onde são tomadas as refeições, com televisão e alguns (poucos) livros.
Para amenizar a estadia da Gabriella e de futuras crianças que cheguem com os pais, contribuindo para que esta etapa das suas vidas seja o menos traumática possível, levámos roupas, brinquedos, jogos, cadernos para pintar e livros em várias línguas, que foram doados pelos nossos voluntários. Graças a estas doações, conseguimos que os mais novos possam estar entretidos e que a sua estadia neste espaço não os prive do que uma criança precisa para o seu desenvolvimento.
Gabriella não fala português, mas os sorrisos, a alegria e o brilho nos seus olhos falam por ela… e são a garantia de que todas estas iniciativas são mais do que válidas.
O nosso mais profundo agradecimento aos nossos voluntários! Juntos, estamos a fazer a diferença na vida destas crianças.
O “Embarque na Saúde” tem a parceria da OIM e JRS - Serviço Jesuíta aos Refugiados e é financiado pela Polícia de Segurança Pública (PSP). Saiba mais sobre este projeto aqui.
Nota: nome fictício e país de origem ocultado, por questões de segurança.