Caroline Thirion

A Médicos do Mundo está a responder à emergência de saúde pública provocada pela epidemia de MPox, que já causou a morte de 537 pessoas, entre os 15.600 casos registados, desde o início do ano, na República Democrática do Congo, um dos países mais afetados por uma nova estirpe. 

A MPox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é uma infeção viral causada por um vírus da mesma família da varíola. A emergência de uma estirpe mais mortífera da doença - 537 mortes na República Democrática do Congo (RDCongo), entre os 15.600 casos registados desde o início do ano - levou a Organização Mundial da Saúde a declarar a doença como uma “emergência de saúde pública de interesse internacional” a 14 de agosto.

Vários países vizinhos da RDCongo já foram afetados e outros poderão vir a sê-lo, incluindo países fora de África. Perante esta situação alarmante, a Médicos do Mundo, uma das organizações não-governamentais (ONG) médicas mais ativas na província congolesa do Kivu do Sul, lançaram uma primeira resposta em abril de 2024, para conter a epidemia, com base na experiência adquirida durante as crises do Ébola e da COVID-19.

 

A resposta imediata da Médicos do Mundo combina medidas curativas e preventivas.

 

As autoridades sanitárias locais identificaram necessidades importantes em matéria de prevenção e controlo da epidemia de Mpox, nomeadamente no que se refere à gestão dos resíduos, ao acesso à água e à notificação dos casos pelas comunidades. 

 

Formação e reforço das capacidades

Entre abril e meados de julho de 2024, foram formados 65 agentes comunitários e 13 presidentes de comissões de saúde. Além disso, 350 trabalhadores do sexo foram sensibilizados para o facto de as relações sexuais (não protegidas) implicarem um risco elevado de infeção.

Esta intervenção da Médicos do Mundo permitiu a 70 mil pessoas, das quais 36.358 mulheres, aprender a reduzir os riscos de transmissão da doença, contribuindo para reforçar a vigilância e a resposta médica à epidemia.

 

"A nossa experiência é crucial para gerir esta epidemia de MPox. A Médicos do Mundo, que é a principal ONG médica na região, está focada em sete zonas sanitárias principais nas próximas semanas, onde se concentram 86% dos casos registados”, refere Malik Ayari, responsável por gestão de crises e conflitos e desk na RDCongo.     

 

Durante as próximas semanas, a prioridade da Médicos do Mundo será abordar as pessoas, quer sejam casos suspeitos ou confirmados, e os profissionais de saúde e agentes comunitários, bem como os líderes comunitários. Serão igualmente visados outros grupos de risco, como os trabalhadores do sexo, os comerciantes, os menores e os clientes de estabelecimentos de bebidas.

 

"A nossa abordagem é estratégica. Queremos formar os profissionais de saúde, melhorar a prevenção e o controlo das infeções, apoiar a assistência psicossocial, mas também aumentar a sensibilização e o controlo nas comunidades", refere Malik Ayari.

 

Experiência sólida

Inicialmente detetada em macacos, de onde vem o seu nome, a transmissão entre humanos ocorre através do contacto próximo, que inclui o toque, o beijo ou a relação sexual.

Tal como a epidemia de Ébola ou a pandemia de COVID-19, que a Médicos do Mundo enfrentou em 2019 e 2020, a MPox é uma zoonose, ou seja, uma doença que é transmitida dos animais para os seres humanos. Com os nossos parceiros, incluindo a Veterinários Sem Fronteiras, a Médicos do Mundo é pioneira na abordagem "One Health", que integra a saúde das pessoas, dos animais e dos ecossistemas.

A Médicos do Mundo está ativa na RDCongo há mais de 20 anos. Além da abordagem "One Health", as nossas equipas trabalham na área da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos.