Perda de entes queridos, doença, deslocação, incerteza, dificuldades económicas e ataques aéreos constantes em todo o país: durante dois anos, os ucranianos tiveram de suportar a realidade de viver num país em guerra. E quanto mais tempo durar a guerra, maiores serão os riscos para a saúde física e mental.
No segundo aniversário da invasão em grande escala, a Médicos do Mundo (MdM) apela à comunidade internacional, para que apoie o sistema de saúde ucraniano, em particular as necessidades de saúde mental da população, através da campanha #AsLongAsItTakes, na versão portuguesa #OTempoQueForPreciso.
Mais de metade da população ucraniana viveu um acontecimento potencialmente traumático e necessita de apoio psicológico de intensidade variável, de acordo com dados de 2023 do governo e das organizações não-governamentais internacionais. Perto da linha da frente, as pessoas sofrem mais e não têm acesso a recursos básicos, incluindo cuidados de saúde. Mas, em outras regiões do país, uma grande parte da população também regista níveis graves de ansiedade e desespero.
"Há um sentimento permanente de incerteza que é extremamente stressante. As pessoas não sabem quando é que a guerra vai acabar. Não sabem quando é que elas próprias ou um ente querido serão recrutados, para combater na linha da frente. A guerra aprofunda os problemas sistémicos, comunitários e individuais, já existentes. Além do medo de perder a vida por causa de um míssil, os problemas quotidianos das pessoas continuam a existir. Tudo isto pode levar a sintomas psicossomáticos graves, ataques de pânico, depressão ou até pior", afirma Panagiotis Chondros, coordenador de saúde mental da MdM.
Ao mesmo tempo, agravado pelo conflito armado, o sistema de saúde, em muitos locais, é incapaz de lidar com as crescentes necessidades de saúde da população. A MdM apoia o sistema de saúde local com unidades médicas móveis, incluindo psicólogos. Além disso, a organização tem como objetivo apoiar a saúde mental das pessoas, antes do desenvolvimento de doenças graves. Por exemplo, através da formação de profissionais, como médicos de família e assistentes sociais. Estes profissionais são treinados para detetar sinais de alerta nos seus doentes, mas também para desenvolverem eles próprios uma maior resiliência. Outra ferramenta inovadora são as denominadas apresentações de teatro playback, que podem ser eficazes para ajudar o público a lidar com os seus problemas e a ligar as comunidades locais.
"Na primeira sessão, não conseguia falar, só chorava. Há vários meses que frequento sessões individuais com a psicóloga da Médicos do Mundo e o meu estado emocional melhorou muito. Ela ensinou-me a ver o mundo de forma diferente e agora tenho forças para continuar a minha vida", diz Yuliya Nikolaenko, uma utente da unidade móvel da MdM da aldeia de Shyshkivka, na região de Chernihiv.
Desde o início da guerra em larga escala, mais de 92 mil ucranianos receberam cuidados de saúde prestados pelas equipas da Médicos do Mundo. Mais de 17.680 receberam cuidados de saúde mental e apoio psicossocial. No total, a MdM efetuou mais de 131.900 consultas.
E a MdM vai continuar a estar lá para as pessoas. Durante o tempo que for preciso.
Assista abaixo aos vídeos da campanha #AsLongAsItTakes/#OTempoQueForPreciso, que serão disponibilizados gradualmente ao longo desta semana:
É ainda necessário proteger as infraestruturas e os profissionais de saúde. Desde o início da guerra, 122 profissionais de saúde foram mortos e 237 ficaram feridos. Além disso, 21 trabalhadores humanitários foram mortos e 40 ficaram feridos, a maioria dos quais trabalhadores nacionais.
A MdM recorda aos responsáveis que os trabalhadores humanitários e as infraestruturas não devem ser alvo de ataques, de acordo com o direito internacional humanitário!