A Médicos do Mundo (MdM) alerta para a deterioração da segurança e manifesta a sua preocupação com as consequências humanitárias e sanitárias. Apelamos à proteção das populações, à garantia do acesso à ajuda humanitária e aos serviços de saúde, bem como ao reforço da ajuda internacional.
"Estamos profundamente preocupados com a intensificação da violência que visa não apenas os civis, mas também os profissionais de saúde, num momento em que a população tem uma enorme necessidade de acesso a serviços de saúde. É imperativo proteger os profissionais e as infraestruturas, reforçar a resposta humanitária para atender às necessidades vitais e urgentes de uma população amplamente privada de ajuda essencial. O nosso trabalho não deve ser impedido, obstruído ou atacado", refere o chefe da missão da MdM no Haiti.
Setor da saúde sob ataque
A MdM condena firmemente a violência que têm como alvo os profissionais de saúde, os doentes e as infraestruturas de saúde.
Estes ataques, combinados com a insegurança generalizada e as crescentes necessidades das populações, comprometem gravemente o acesso a serviços de saúde essenciais. Em consequência, o acesso aos cuidados de saúde da população haitiana está consideravelmente reduzido. Na região metropolitana de Port-au-Prince, menos de metade dos estabelecimentos de saúde operam em plena capacidade.
"Em apenas duas semanas, constatamos um deslocamento massivo de populações deslocadas internamente, devido à violência armada, e a criação de 13 novos locais na zona metropolitana de Porto Príncipe."
Necessidades humanitárias e sanitárias exacerbadas
Além da violência direta, os ataques e confrontos das últimas semanas forçaram dezenas de milhares de pessoas a deixar rapidamente as suas casas, elevando para mais de 703 mil o número total de pessoas deslocadas até outubro de 2024, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Entre elas, metade são crianças.
Embora a maioria encontre refúgio na comunidade, um número crescente de pessoas é obrigado a concentrar-se em locais onde as condições sanitárias e de segurança são indignas. Estes locais, caraterizados por superlotação, desordem e acesso limitado a água e a instalações sanitárias básicas, amplificam os riscos sanitários, como epidemias, infeções respiratórias e violência sexual.
"Em apenas duas semanas, constatamos um deslocamento massivo de populações já deslocadas internamente, devido à violência armada e à criação de 13 novos locais na região metropolitana de Port-au-Prince. Esta situação agrava uma crise humanitária já crítica, marcada pelo encerramento de cerca de 15 estruturas sanitárias, incluindo o Hospital Universitário da Universidade Estatal do Haiti, e pela saturação dos estabelecimentos ainda funcionais, como o Hospital Universitário La Paix", destaca o coordenador da MdM no país.
Resposta humanitária inadequada
Apesar do aumento significativo das necessidades humanitárias, enquanto mais de metade da população haitiana sofre de insegurança alimentar, a resposta da comunidade internacional continua a ser insuficiente para enfrentar a emergência. No final de novembro, apenas 43% das necessidades identificadas no plano de resposta humanitária do país para o ano de 2024 foram cobertas.
Desde os incidentes de 11 de novembro de 2024, o encerramento do Aeroporto Internacional Toussaint Louverture e a suspensão de vários voos humanitários para Port-au-Prince comprometem gravemente a capacidade das organizações humanitárias de fornecer serviços essenciais, acentuando cada vez mais o isolamento do Haiti, especialmente da sua capital.
A MdM apela a todos os atores envolvidos para garantir a proteção necessária aos profissionais humanitários e de saúde, bem como às infraestruturas e bens médicos. A organização também apela à comunidade internacional para reforçar o seu apoio à resposta humanitária no Haiti.
A Médicos do Mundo no Haiti
Presente no Haiti há quase 30 anos, a Médicos do Mundo trabalha nas áreas da saúde, dos direitos à saúde sexual e reprodutiva, da saúde mental, da proteção e do reforço das capacidades dos profissionais e das infraestruturas do sistema de saúde. Em colaboração com os agentes de saúde comunitária polivalentes (ASCP) e seus parceiros, a organização responde às necessidades de saúde das comunidades locais e facilita o seu acesso aos cuidados, apesar de um contexto de segurança complexo.