A deterioração da saúde física e mental dos migrantes e refugiados surgem como consequência directa das condições de vida vulneráveis em campos de acolhimento na Grécia. Mais de 17 mil pessoas estão confinadas a estes centros, cuja capacidade não chega aos sete mil.

 

Refugiados
S. Poularakis for Doctors of the World – Greek Delegation

 

De acordo com os dados recolhidos pela equipa da Médicos do Mundo no terreno, a deterioração significativa da saúde mental dos refugiados e migrantes deve-se às difíceis condições de vida e às restrições de movimento nas ilhas gregas, após a implementação do acordo EU-Turquia sobre a migração. O medo, o recurso ao álcool e às drogas, e a violência sexual e de género nos campos são também efeitos da deterioração diária das condições de vida dos refugiados nas ilhas. 

Quanto às mulheres e aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, a complexidade enfrentada é ainda maior: mulheres grávidas, necessidades de planeamento pré e pós-natal e familiar, problemas ginecológicos pré-existentes e constrangimentos culturais. 


Apesar das instalações de acomodação alternativa oferecerem melhores condições de vida e, em teoria, melhor acesso aos serviços, as necessidades em termos de cuidados de saúde primários, apoio psicossocial e de saúde sexual e reprodutiva continuam a ser elevadas e permanecem, na sua maioria, sem resposta. 

Esta situação deve-se à inabilidade das infra-estruturas de acomodação alternativas do Sistema Nacional de Saúde nas ilhas em corresponderem às necessidades particulares ao nível do apoio psicossocial, em consequência das complexas vulnerabilidades das pessoas que aí residem. 
 

Refugiados
Médicos do Mundo
 
Situação actual nos campos de refugiados

 

Em Setembro, a MdM, juntamente com oito outras ONGs, apelou às autoridades gregas para melhorarem as condições nos Centros de Recepção e Identificação nas ilhas. Num apelo conjunto, chamou-se a atenção para o facto de mais de 17 mil pessoas estarem confinadas a estes centros, quando a sua capacidade é apenas de seis mil pessoas. O número de pessoas nos centros de recepção e identificação em Samos excedeu seis vezes a sua capacidade, enquanto as condições no centro de Moria, em Lesbos, são terríveis e pioraram drasticamente. 

 

Refugiados
© S. Poularakis for Doctors of the World – Greek Delegation

 

Em Moria, o sistema de saneamento não funciona e as águas residuais das casas de banho chegaram às tendas e aos colchões das crianças, quando os fundos necessários para esta situação já tinham sido aprovados. 

Existe um aumento dos incidentes de abuso e de violência sexual e a maioria dos migrantes e refugiados não se sente segura. A situação torna-se ainda pior devido à falta de pessoal essencial e à demissão repetida de médicos e enfermeiros, devido às duras condições de trabalho.

Refugiados
Médicos do Mundo
A história de um refugiado 

“Sou do Afeganistão e nasci em 1972. Vim para a Grécia juntamente com a minha mulher e os meus netos há cerca de um ano, depois das nossas vidas terem sido ameaçadas no nosso país. Primeiro ficámos em Moria e, em Março de 2018, fomos transferidos para o campo de Karatepe. 

A minha mulher estava grávida do nosso sexto filho. Inicialmente fiquei muito feliz mas, depois de a examinar, a Médicos do Mundo informou-nos que não se encontrava bem. Imediatamente, a MdM reencaminhou-nos para um hospital, onde realizou mais exames. 

Infelizmente, a minha mulher foi diagnosticada com um problema grave e tivemos de deixar a ilha para obter mais tratamentos. A Médicos do Mundo reencaminhou-nos para o seu Serviço Social, que ouviu o nosso problema, aconselhou-nos e, com a sua ajuda, após mais ou menos uma semana, tratou da nossa saída da ilha. Durante todo este tempo, estiveram ao nosso lado, aconselharam-nos e apoiaram-nos. Obrigado por nos terem ajudado. Esperamos encontrá-los novamente!”

B., refugiado Afeganistão

A equipa no terreno

“Desde o início, quando comecei a trabalhar como médica, sempre quis fazer parte de uma missão humanitária. Nunca esperei que isto acontecesse no meu próprio país e, mais precisamente, no local onde vivo actualmente, em Lesbos.

A nossa equipa testemunhou nos últimos três anos eventos marcantes que ocorreram à frente dos nossos olhos, no calor do momento, quando eram menos esperados. Imagens de milhares de pessoas desesperadas que se aglomeravam nas ruas, praças e portos. Milhares de coletes salva-vidas empilhados junto à costa. Pessoas a chorar pelo que perderam, mas também pessoas que, apesar das enormes dificuldades vividas, mantiveram-se de pé e permaneceram optimistas quanto ao seu futuro. Uma vida futura que definitivamente deveria ser melhor que a do seu passado.

Se tivesse de guardar na minha mente um detalhe de tudo o que tive a sorte de viver nos últimos três anos seria o “alívio”. O alívio que estas pessoas sentiram quando perceberam que estavam seguras. O alívio da mãe que vê o seu filho já não estar doente. 

O nosso próprio alívio quando conseguimos curar os doentes, independentemente da sua raça ou religião. E os sorrisos dos bebés... porque o nosso maior presente foram todos aqueles sorrisos bonitos das crianças…”

Anna Rekleiti, Médica da equipa da MdM team em Lesbos

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Anna Rekleiti