Médicos do Mundo

O excesso de peso e a obesidade afectam 2 em cada 10 crianças entre os 3 e os 5 anos e 3 em 10 crianças entre os 7 e os 9 anos. Portugal está entre os 5 países europeus com maior prevalência de obesidade infantil, o que coloca em causa a saúde das nossas crianças.

Desde 1980, a prevalência da obesidade triplicou na Europa, onde cerca de 20% da população é obesa. A estes números, juntam-se, por ano, 400 mil crianças.

Portugal é um dos países europeus como maior incidência de obesidade infantil – 31,6% das crianças têm excesso de peso e 13,9% são obesas. Mas afinal, o que está a potenciar a obesidade infantil?

Causas

O excesso de peso e a obesidade resultam de inúmeros factores como a genética, factores ambientais ou de outros problemas de saúde. Contudo, existem outras causas, modificáveis, que potenciam o excesso de peso, nomeadamente os comportamentos alimentares pouco saudáveis, que se caracterizam pelo consumo excessivo de energia, calorias, açúcares e sal que, por sua vez, em muitos casos, se aliam à diminuição da ingestão de cereais completos e hortaliças.

O abandono das tradições alimentares mediterrâneas reflecte-se no comportamento alimentar das crianças, que substituem os alimentos ricos em nutrientes por outros mais pobres e com uma elevada percentagem de calorias, o que leva à acumulação de gordura em relação à massa magra corporal.

“Actualmente, verifica-se cada vez mais uma diminuição do tempo disponível para a preparação de refeições saudáveis e equilibradas, e desta forma a alimentação mediterrânea tradicional está a ser substituída por alimentos pré-confeccionados, de consumo rápido e com elevado teor calórico, ricos em ácidos gordos saturados e pobres em hidratos de carbono complexos.” (Coelho et all, 2008 in Pina, 2017)

A par da falta de tempo, os anúncios publicitários e a oferta de alimentos menos saudáveis a preços competitivos têm influência nas escolhas das famílias portuguesas.

Por outro lado, a diminuição da actividade física leva à redução do gasto de energias e calorias ingeridas, contribuindo para o excesso de peso. Os comportamentos sedentários das crianças são visíveis pelo número de horas despendidas a ver televisão, a jogar videojogos ou a utilizar o computador, reduzindo o tempo ao ar livre, a andar a pé, de bicicleta ou até mesmo a correr.

Consequências para a saúde das crianças

A aliança entre o sedentarismo e os maus hábitos alimentares pode ter consequências para a saúde das crianças, seja a nível físico – problemas ortopédicos, dificuldades respiratórias, hipertensão, diabetes, perturbações no sono, cancro, problemas cardíacos, colesterol - ou psicológico, como a diminuição da autoestima ou a deturpação da autoimagem.

Ainda, e a nível social, a obesidade pode ter graves consequências na interacção entre as crianças e o meio escolar, afectando sobretudo a integração das mesmas junto dos colegas. Nestas faixas etárias, as crianças com excesso de peso ou obesas podem ser alvo de bullying por parte de outros colegas, resultando em sequelas graves durante o crescimento.

A importância da prevenção

“Os hábitos alimentares e o sedentarismo são tidos como os principais responsáveis pelo aumento crescente da obesidade infantil, daí que quando falamos da sua prevenção, seja na promoção de uma alimentação saudável e da actividade física que devemos colocar maior enfoque.” (Moura e Cunha, 2005; Campos et al., 2008; Silva, 2010 in Pina, 2017)

Para combater a obesidade infantil, é necessário que haja uma articulação entre entidades competentes, que intervêm directa ou indirectamente na educação das crianças, para que possam criar medidas que invertam os níveis de sedentarismo e melhorem os comportamentos alimentares das crianças. Para que se possam tomar medidas que incluam as duas vertentes, torna-se necessário segmentá-las para melhor compreender as alterações necessárias:

Cuidados com a alimentação:

        - Evitar alimentos pré-confeccionados, de consumo rápido com elevado teor energético e baixo valor nutricional e apostar em alimentos frescos;

        - Evitar a adesão a restaurantes de fast-food;

        - Privilegiar uma alimentação rica em fruta e vegetais;

        - Preparar uma lancheira saudável para as crianças levarem para a escola;

        - Preferir água a refrigerantes;

        - Evitar o excesso de doces e de cereais açucarados;

        - Tornar o pequeno-almoço obrigatório;

        - Privilegiar os hidratos de carbono e proteínas de absorção lenta;

        - Não saltar refeições e evitar os jejuns prolongados; e

        - Estipular horários de refeição.

O exercício físico:

Para além das alterações alimentares, a prática de exercício físico, em combinação com uma alimentação saudável, é a forma mais eficaz de prevenir a obesidade infantil.

Neste sentido, é aconselhável:

        - Estimular as crianças a andar de bicicleta;

        - Juntar a família para jogos ao ar livre;

        - Caminhar com as crianças;

        - Diminuir o tempo despendido em frente à televisão ou ao computador;

        - Incentivar o convívio físico entre crianças, para que possam brincar e gastar energias; e

        - Incluir, se possível, a prática de uma actividade desportiva no plano semanal da criança.

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Links úteis:

http://www.plataformacontraaobesidade.dgs.pt/PresentationLayer/textos01.aspx?cttextoid=388&menuid=196&exmenuid=197

http://bdigital.ipg.pt/dspace/bitstream/10314/3671/1/E%20SIP%20-%20Emanuel%20F%20H%20Pina.pdf