Passado pouco mais de um mês do conflito na Ucrânia, a situação é crítica em muitas cidades, onde as populações estão sitiadas e não têm acesso a meios essenciais de sobrevivência. Além da destruição, que atingiu muitas infra-estruturas civis, o sistema de saúde enfrenta dificuldades acrescidas: a leste, faltam medicamentos e materiais médicos, enquanto no oeste, nas áreas fronteiriças, os hospitais procuram dar resposta ao fluxo massivo de deslocados.
Até agora, mais de 10 milhões de pessoas, o equivalente a um quarto da população da Ucrânia, tiveram de abandonar as suas casas, de acordo com os dados mais recentes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Cerca de 3,9 milhões saíram do país e as estimativas apontam para quase 6,5 milhões de deslocados internos.
Face a esta emergência, dentro e fora da Ucrânia, a Médicos do Mundo (MdM) está concentrada em fazer chegar materiais médicos e medicamentos aos hospitais ucranianos, através da implementação de uma cadeia de abastecimento, como também em disponibilizar cuidados médicos e cuidados de saúde mental em abrigos colectivos e a quem cruza as fronteiras.
Entrega de materiais médicos em Siret, na Roménia.
Em território ucraniano, estamos a fazer a diferença no atendimento de pessoas feridas e de quem sofre de doenças crónicas com a entrega de material sanitário e medicamentos.
Nas regiões mais atingidas pelo conflito faltam antibióticos, analgésicos, medicamentos para o cancro, recipientes de plástico para sangue e líquidos para perfusões, material de protecção e material cirúrgico, além de outros artigos diversos, como lanternas de bolso, lençóis e garrafas de água.
Para suprir estas necessidades, a MdM está a apoiar 15 hospitais no leste, centro e sul da Ucrânia, em locais como Lugansk, Donetsk, Dnipro, Chernivtsi ou Severodonetsk, entre outros, através da entrega de material médico, entre os quais kits de emergência, de tratamento de feridas e da cólera, assim como de medicamentos. Foi ainda possível apoiar o Centro Oncológico de Kramatorsk, que tinha ficado sem medicamentos para a realização de quimioterapia.
Nas primeiras semanas, foram enviadas três toneladas de material, outras 12 toneladas chegaram recentemente e mais entregas estão previstas para os próximos tempos. Estes materiais está a fazer a diferença no atendimento de pessoas feridas e de quem sofre de doenças crónicas.
Apoio às populações de Lugansk, antes da escalada do conflito.
Mantemos o apoio possível às populações que servimos na Ucrânia desde 2015, na maioria pessoas idosas e com doenças crónicas.
Em Lugansk e Donetsk, na região de Donbass, onde a MdM está desde há cerca de oito anos, mesmo antes desta ofensiva militar, a população já enfrentava uma crise humanitária permanente, com restrições de movimentos, escassez de bens essenciais e dificuldades no acesso a cuidados de saúde.
Cerca de 30% da população desta região tem mais de 60 anos e necessita de monitorização constante e acesso a medicamentos para doenças crónicas. Com a impossibilidade de circulação das unidades móveis da MdM, logo nos primeiros dias do início dos combates, as equipas no terreno distribuíram todo o stock de medicamentos, material médico e equipamento cirúrgico a vários hospitais.
Por outro lado, a pensar em muitos dos utentes que precisam de acompanhamento, os profissionais da MdM disponibilizam, de forma remota, consultas online e telefónicas de saúde mental e saúde sexual e reprodutiva. Também, de forma directa, em Dnipro, a MdM providencia cuidados de saúde mental, especialmente em abrigos colectivos, e em Chernivtsi, trabalha com várias instituições locais para apoiar, identificar, avaliar e dar resposta às necessidades das populações deslocadas.
Equipa da MdM junto da fronteira romena, perto de Siret.
Estamos nos locais de passagem e nas regiões fronteiriças, a prestar assistência e cuidados de saúde aos refugiados.
Para chegar às pessoas deslocadas e em trânsito, a MdM tem equipas móveis que disponibilizam consultas médicas e de saúde mental. Foram ainda colocadas equipas da Unidade de Emergência ao longo das fronteiras com a Polónia, Roménia e Moldávia, para avaliar as necessidades dos refugiados, bem como as instalações de acolhimento.
Na vila de Siret, na Roménia, junto à fronteira com a Ucrânia, a MdM montou um gabinete médico móvel, onde está uma equipa composta por médicos, uma parteira, uma enfermeira, uma pediatra e um assistente social. Aqui são disponibilizados cuidados médicos, em resposta às necessidades específicas de quem foge da Ucrânia, na sua maioria mulheres e crianças.
Ainda no início deste êxodo, e devido ao Inverno rigoroso na região, a MdM procurou responder às necessidades mais imediatas, deslocando um carregamento de roupas, mantas e cobertores.
Em Portugal, em resposta a um pedido de ajuda e em articulação com outras instituições, a MdM destacou uma equipa de emergência para o transporte de uma refugiada ucraniana, em estado crítico, desde uma unidade hospitalar na Polónia até ao Hospital de São João, no Porto.
Além disso, a MdM Portugal, à semelhança do que acontece em outros países, está a avaliar o apoio a respostas de acolhimento e de acompanhamento dos refugiados ucranianos em território nacional.
Maternidade e hospital pediátrico em Mariupol após ataque
Apelamos para que cessem imediatamente os combates e se garanta a segurança das populações e das infra-estruturas civis.
Tal como tem feito ao longo deste conflito, a MdM continua a apelar às partes envolvidas para que cessem de imediato os combates, abram corredores humanitários e garantam total acesso humanitário às áreas afectadas. O Direito Internacional Humanitário deve ser respeitado. As populações, as infra-estruturas civis e os trabalhadores humanitários não devem ser alvos. Devem ser mantidos em segurança.
Uma vez que a maioria das pessoas deslocadas são mulheres e raparigas, para a MdM é necessário um foco específico nos serviços e direitos à saúde sexual e reprodutiva, assim como na protecção contra a violência baseada no género.
Com o seu apoio, vamos continuar onde somos necessários. Nos locais mais atingidos pelo conflito, nos caminhos de passagem ou nos sítios de refúgio.
Contribua para o nosso Fundo de Emergências.
Ajude-nos a chegar mais longe, a ficar mais perto de quem sofre com este conflito.
Juntos, conseguimos responder às necessidades destas populações, dentro ou fora da Ucrânia.