Luís Nunes é Enfermeiro e voluntário da Médicos do Mundo

O meu nome é Luís Nunes, enfermeiro e voluntário da Médicos do Mundo.

Adicto da urgência e com pós-graduação em missões humanitárias, catástrofes e conflitos. Até à data, estive no Quénia, no terramoto de 2015 no Nepal, em Madagáscar e no ciclone Idai em Moçambique.

Com a chegada da Covid-19, a missão desta vez é em Portugal. Estou na linha frente da pandemia, no serviço de urgência, no hospital onde trabalho. Os nossos turnos são passados na área de isolamento COVID-19, com pacientes do ponto de vista clínico mais instáveis e cujo futuro é muito incerto, o que envolve uma responsabilidade acrescida.

Psicologicamente tem sido exigente e fisicamente também tem sido muito duro. Os Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) sufocam-nos a pele, fazem-nos reter o dióxido de carbono e dificultam toda a ação.

Tem sido um enorme desafio, diário e constante, pois estamos todos, médicos e enfermeiros, a descobrir uma situação nova e a tentar encontrar soluções para os doentes. É muito desgastante, mas alimenta-nos a adrenalina. Foi para cuidar e tratar os nossos doentes que escolhi ser enfermeiro.

"Posteriormente, a Médicos do Mundo lançou-me novo desafio, perante o qual fui incapaz de resistir ou baixar os braços"

A grande maioria das pessoas que recorrem à Médicos do Mundo vivem isoladas. Seja qual for a razão ou a história que as levou até ali, quando as encontramos já não têm a quem recorrer. E a Equipa Técnica de Rua aparece aqui. Somos nós que nos dirigimos até eles. Não nos mantemos num escritório ou gabinete, à espera de sermos procurados. Não os retiramos daquele que é um local seguro para eles, para que possamos conversar.  

A missão, durante esta fase que vivemos, é retirar todas as pessoas em situação de sem-abrigo da rua, acolhendo-os em pavilhões desportivos, cedidos pela Câmara Municipal de Lisboa.

Temos reforçado a informação junto desta comunidade mais vulnerável, coordenando todos os esforços de assistência médica, prestada pelos médicos e enfermeiros voluntários da Médicos do Mundo, bem como camas, alimentação, higiene e roupa. 

Queremos salvaguardar estas pessoas da Covid-19 e por outro lado evitar que se tornem fontes de contágio para a restante comunidade, portanto a ideia e que se mantenham o máximo tempo em isolamento, nestes espaços.

Contudo, e apesar de proporcionarmos todos os bens básicos necessários existe muita resistência e tentativas de fuga por parte de algumas pessoas.

Assim, diariamente, para além de prestarmos os nossos serviços de saúde, lutamos por estas pessoas, para que se sintam integradas e motivadas a largar a vida que tiveram até ao momento.

“Acredito que juntos, em equipa, com todos os esforços unidos, iremos conseguir fazer a diferença na vida destas pessoas."