Representação Norte da Médicos do Mundo (MdM). Rua dos Mercadores. Há uma porta que se abre para receber Carlos, uma das tantas histórias escondidas pelas ruas da cidade e apoiadas pelo Porto Escondido.
Tem 60 anos e é com um sorriso tímido no rosto que nos conta como regressou à Invicta, após vários anos emigrado. Conhece as ruas de Inglaterra, de Espanha, da Alemanha e lembra as histórias do que lá viveu.
Foi trabalhador na construção civil, onde passou grande parte do seu tempo, até lhe ter sido diagnosticado um problema de saúde que o impossibilitou de continuar a trabalhar. Chegou a Portugal dias mais tarde. Lembra-se do tempo que ficou internado no Hospital Joaquim Urbano e do esforço que fez para pagar tudo do seu bolso. Após ter alta, e sem outro lugar para onde ir, Carlos pediu ajuda à Segurança Social e mudou-se para um quarto que serviu de sua casa até ao dia em que as poupanças acabaram. Reformado, e com uma pensão insuficiente face às suas despesas, fez da rua o seu novo “lar”, sendo agora um dos mais recentes elementos de um centro de alojamento temporário no Porto.
“Conheço a Médicos do Mundo há sensivelmente sete anos. Já os conhecia de vista, quando morava numa pensão. Uns tempos mais tarde, quando vim para a rua, comecei a ser ajudado pela equipa de rua do Porto Escondido. Deram-me medicação, umas roupinhas, produtos de higiene e vacinas”, conta Carlos
A equipa de rua do projecto Porto Escondido visitava Carlos numa das tantas voltas que dava pela cidade. Ao seu lado, e durante muitos anos, o companheiro de todas as horas, um outro beneficiário da MdM.
“Saí da rua porque perdi a pessoa com quem dividia o meu espaço. Era uma pessoa que eu entendia e que me entendia a mim, mas integrou uma resposta de alojamento e eu fiquei sozinho até ao momento em que outras pessoas, consumidoras de drogas, ocuparam aquele espaço. Fui embora porque precisava de sair dali. Ainda fiquei uns dias a dormir perto de uma obra, mas não tinha condições nenhumas. Foi aí que pensei ‘vou tentar’ e fui”, relata Carlos