Acredito que o expoente máximo da capacidade humana é a empatia, isto é, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Se formos capazes disso, conseguimos evoluir e tornarmo-nos melhores pessoas no nosso dia-a-dia. É com esta perspetiva que encaro o meu trabalho e aquilo que faço diariamente na Médicos do Mundo. E foi também com esse pensamento que abracei a oportunidade que a Médicos do Mundo me proporcionou, em juntar-se a uma equipa que partiu no dia 24 de março para a Beira, Moçambique, pouco depois da região ter sido devastada pelo ciclone Idai.
Sara Moura, Terapeuta Ocupacional da Médicos do Mundo na representação norte da organização, aceitou o desafio de integrar a missão de emergência humanitária em Moçambique. Após quase um mês no terreno, Sara destaca o crescimento, a perserverança e a resiliência, sem nunca esquecer o sorriso de quem ajudou.
Chamo-me Sara Moura, tenho 31 anos e sou Terapeuta Ocupacional. Assumi funções enquanto administradora financeira e logística da Operação Embondeiro e foi um enorme desafio, que agora com algum distanciamento percebo que me ajudou a crescer imenso enquanto profissional, mas principalmente enquanto ser humano. Aprendi que a perseverança e a resiliência são ferramentas poderosíssimas.
Aprendi que temos que dar tempo para “sarar as feridas” e aprendi também que a ligação com as pessoas, a conexão e a proximidade é essencial; diria mesmo o mais importante!
É impossível não me recordar com frequência do impacto que a ajuda humanitária tem para o povo moçambicano.
Na fase inicial a adrenalina é enorme e acontece tudo muito rápido e de forma muito intensa, mas é impossível não guardar na bagagem da minha vida as memórias e as recordações de todas as brincadeiras, dos sorrisos, dos abraços e da alegria no olhar de cada uma das crianças que no final do dia de trabalho partilhavam connosco.
Lembro-me de estar a jogar à bola com alguns meninos e meninas, e vi uma menina isolada do grupo, sentada no chão. Estava cabisbaixa, enrolada em si própria, parecia triste...
Aproximei-me dela e quis saber o que a tinha deixado assim. Disse-me:
“- Não gosto de jogar à bola, e ninguém brinca comigo.”
Perguntei-lhe o que mais gostava de fazer e, com aqueles olhos grandes e brilhantes, respondeu-me:
“- Estudar!”
Tinha uma mochila, um livro e um lápis. Lembro-me de ir buscar uma caixa de lápis de cera, com todas as cores, e de ela fazer um desenho.