Após ser distinguido com o Prémio Nobel da Paz em 2018, Denis Mukwege esteve em Portugal para receber a distinção Doutor Honoris Causa, pela Nova School of Business and Economics. Durante o seu discurso, apelou à condenação internacional por crimes sexuais, relembrando que a violação e a violência sexual são armas de guerra em vários locais do mundo, nomeadamente, na República Democrática do Congo, onde trabalha com a delegação belga da Médicos do Mundo.

Denis Mukwege, um dos maiores especialistas mundiais na reparação e tratamento de danos físicos provocados por violação, ressalvou a necessidade da acção contra a impunidade dos crimes sexuais. Embora seja reconhecido como crime internacional pelo Estatuto de Roma, o tribunal, instaurado desde 2002, nunca condenou qualquer responsável pela violência sexual, usada como arma de guerra em cenários de conflito.

 

Denis

 

Apesar de existirem poucas provas, o médico congolês relembrou a audiência que, após guerra civil de 2010, foram identificados vários autores e registadas várias centenas de crimes, entre os quais sexuais, cujos responsáveis permanecem em entidades de poder como as Forças Armadas, Polícia ou Governo do país, sem que tenham sido julgados e condenados.

Sem uma acção conjunta que preveja a condenação deste crime internacional, a violência sexual e a instabilidade persistem de forma intensa na República Democrática do Congo, onde a violação é utilizada como arma de guerra por milícias, soldados e rebeldes.

A acção humanitária de Denis Mukwege


Para atenuar as consequências destrutivas desta realidade, o médico congolês fundou, em 1999, o Hospital de Panzi, prestando assistência médica aos sobreviventes de violência sexual. 


Desde então já foram ajudadas 50 000 vítimas de violência sexual, muitas das quais crianças, algumas com menos de um ano de idade. Nos últimos cinco anos, o número médio anual de vítimas tem variado entre as 2000 e as 3000 e só em 2018 foram tratadas 2077 pessoas. 


Em 2015, a delegação belga da Médicos do Mundo juntou-se ao Hospital de Panzi, na província de Bukavu, onde várias centenas de pessoas são seguidas e acompanhadas numa abordagem holística que tem em conta não só as questões físicas, mas também a reintegração social, o apoio psicossocial e legal das vítimas.

Mukwege


O Hospital de Panzi tem 450 camas, aproximadamente um terço das quais são reservadas para sobreviventes de violência sexual. Cerca de 40 a 60% das mulheres tratadas no Hospital de Panzi por violência sexual são incapazes de voltar para casa após receberam tratamento médico, seja devido à gravidade de seus ferimentos, violência, ou, mais frequentemente, pelo estigma associado à violência sexual.


Paralelamente ao Hospital, Denis Mukwege criou, em 2008, a Fundação Panzi da República Democrática do Congo, assegurando a prestação de outros serviços como assistência jurídica, apoio psicossocial e programas socioeconómicos. A Fundação apoia ainda ao nível do alojamento, refeições e acesso a uma variedade de serviços, como alfabetização, apoio à criação de pequenas empresas e diferentes formas de apoio psicológico, incluindo musicoterapia.


Denis Mukwege tornou-se um defensor global para a igualdade de género e a eliminação da violação como arma de guerra. Já recebeu vários prémios internacionais pelo seu trabalho, incluindo o Prémio de Direitos Humanos da ONU, o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, o Prémio Olof Palme e o Clinton Prémio Cidadão Global. A revista “TIME” listou-o entre as 100 pessoas mais influentes do mundo e a Carter Foundation nomeou-o de "cidadão do mundo".


Em 2018, Denis Mukwege recebeu o Prémio Nobel da Paz, ao lado da activista Nadia Murad, como reconhecimento do seu trabalho na luta contra a violência contra as mulheres.