Márcio Silva é enfermeiro e voluntário da Médicos do Mundo em projectos que a organização tem no norte do país. Conheceu a Médicos do Mundo há cerca de 9 anos quando trabalhou no projecto Terceira (C)Idade como Enfermeiro de Reabilitação e tem permanecido connosco ao longo dos anos.
Médicos do Mundo (MdM): Porque razão decidiu fazer voluntariado?
Márcio Silva (MS): Comecei a trabalhar com a Médicos do Mundo como assalariado no Projecto Terceira (C)Idade, no Porto, como Enfermeiro de Reabilitação em 2010. Por questões profissionais tive de sair, tendo ficado ligado apenas como voluntário, onde permaneço até hoje.
Desde muito cedo que faço voluntariado, mais ligado ao sector da emergência médica enquanto bombeiro voluntário. O interesse pela área social e comunitária surgiu mais tarde e muito associado à aprendizagem que fiz enquanto enfermeiro de reabilitação no projeto TCI. Esta decisão surgiu pela certeza que a melhoria das condições de vida das pessoas/comunidade, depende do trabalho de todos, junto das populações mais desfavorecidas, não podendo deixar a resolução de todos os problemas nas mãos do Estado, que como sabemos é incapaz de chegar a todo o lado de forma eficaz e eficiente...
MdM: Em que projectos colabora/colaborou?
MS: Estive no Projecto Terceira (C)idade (Porto), Comunidade Saudável (Timor Leste), Prestação de cuidados de saúde na Unidade Habitacional de Santo António (Porto), Participação em actividades de promoção de saúde e prevenção.
MdM: Para si, qual é a importância da intervenção da Médicos do Mundo junto das populações mais vulneráveis?
MS: A prestação de cuidados de saúde de proximidade junto daqueles que dificilmente e por várias razões se deslocariam aos serviços existentes. A promoção de cuidados de saúde básicos e o encaminhamento para os serviços, garantindo a sua realização. A identificação de situações de risco e a articulação com as autoridades existentes. Ouvir as pessoas no seu ambiente habitual, não julgar, construir uma relação de confiança com os mais desprotegidos e intervir por forma a reduzir riscos.
MdM: O que é que aprendeu ao ser voluntário da Médicos do Mundo?
MS: Esta é uma pergunta muito difícil de responder, porque o que aprendi é impossível escrever por palavras, muitas das aprendizagens têm uma componente emocional muito forte. No entanto, penso que posso resumir em algumas palavras: respeito pelas diferenças, capacidade de escuta, capacidade de compreensão, flexibilidade para actuar em contextos distintos desvinculados do meu eu dos meus valores e das minhas convicções.
MdM: Existe algum momento ou história que o tenha marcado? Qual e Porquê?
MS: Vários momentos me marcaram enquanto voluntário da Médicos do Mundo, pelo que é impossível eleger um momento ou história. No entanto a minha permanência no distrito de Viqueque em Timor Leste foi uma experiência única, não só pelas características da missão, do país, das pessoas, bem como o estado em que se encontrava o projeto. Foram 9 meses de muita reflexão, muito trabalho, muitas emoções, muitas dúvidas, muitas incertezas, no entanto apenas um objetivo: cumprir a missão e prestar o melhor serviço de saúde às comunidades a que dávamos apoio.
MdM: Em suma, o que é para si a Médicos do Mundo?
MS: Organização não governamental para o desenvolvimento, com uma missão bem definida, com valores, com provas dadas da sua excelência no contacto com as populações mais desprotegidas. No entanto é composta por pessoas e como tal por vezes surgem desvios ao que seria esperado.