É um dos rostos das tardes da TVI onde, todas as semanas na rubrica “Sr. Doutor”, ajuda pessoas a recuperarem o seu sorriso e auto-estima. Médico dentista e especialista em Cirurgia Oral, prática exclusiva na clínica Medical Art Center que gere, João Espírito Santo aceitou o desafio da Médicos do Mundo e nesta entrevista explica como bons hábitos poderão ser sinónimo de uma boca feliz e sorridente.

 

 

 

Quais as regras para uma boca saudável?

A regra passa pelo nosso método de acordar, tomar banho, escovar os dentes, tomar o pequeno-almoço - eu prefiro que escovem os dentes depois do pequeno-almoço e não antes, mas isso já vai depender um bocado do método e da regra de higiene diária do paciente. De preferência a meio da manhã tomar algo e também ter o cuidado de, pelo menos, bochechar ou gargarejar ou passar o fio dentário de forma a não reter placa. A seguir ao almoço escovar os dentes. A seguir ao lanche fazer o mesmo de gargarejar ou passar o fio dentário. Depois de jantar, a última coisa antes de se deitar deve ser escovar os dentes. Movimentos circulares de cima para baixo, de trás para a frente, durante 3 a 4 minutos, sobre todas as superfícies dos dentes e no final escovarem, então, a língua. Lembrem-se de uma coisa muito importante: estimar os nossos dentes é tal e qual como estimarmos qualquer parte do nosso corpo. 

 

Esta preocupação deve começar logo nos primeiros meses de vida?

Sim, deve começar na gestação da mãe ou, em bom rigor, antes da mãe começar a pensar em engravidar deve ter um bom estado de saúde oral. Não tem de ter os dentes todos, se for edêntula parcial - isto é, desdentada parcialmente - desde que tenha os dentes todos saudáveis, faz uma gravidez tranquila sem sobressaltos, sem ter de recorrer a médicos dentistas em situações de urgência. E, quando o bebé nasce começa a higienizar a cavidade oral com uma gaze humedecida depois de mamar ou de tomar o biberão. É importante dizer também que hoje em dia há muitas formas de nós potenciarmos a higiene dos bebés - através de dedeiras, gazes humedecidas… E, também de ajudar a que as crianças consigam erupcionar e não pressionar os dentes de uma forma menos dolorosa. Há meios e, neste caso, um velho truque da cenoura fria para que eles possam coçar a gengiva de forma a poder facilitar a erupção dos dentes de leite.  

 

Se eu fui uma criança com uma higiene oral deficiente serei um adulto com problemas?

As crianças só têm uma higiene oral deficiente porque os pais são negligentes sobre os filhos ou, neste caso, os tutores. A higiene oral dos filhos deve ser acompanhada até à idade em que eles são autónomos para tomarem banho da ponta dos cabelos à ponta dos pés, isto é, que saibam escovar o cabelo, que saibam limpar as orelhas, que saibam fazer as suas necessidades e a sua higiene após as necessidades de forma autónoma. Portanto, muitas vezes os adultos ao serem displicentes sobre a educação do filho ou de quem são os tutores, fazem com que comprometam sim, a médio prazo, a saúde oral do adulto porque todos os dentes devem ser saudáveis e não é por ser a dentição de leite que não deve ser igualmente tratada e higienizada e valorizada. Temos de perceber que se existe uma transição de dentição é em prol da excelência do que é o ser humano como ser vivo. 

 

 

As pessoas associam muitas vezes a saúde oral a hábitos de higiene, mas vai muito além disso…

As pessoas têm de perceber que tudo está implícito. Se nós fazemos uma boa dieta e temos bons hábitos, então temos uma boa saúde oral. Se nós não temos bons hábitos nem uma boa dieta, então, possivelmente nem com uma excelente técnica de higiene oral podemos ter uma boa saúde oral. Por isso, temos de saber criar aqui a responsabilidade dos hábitos e das funções das pessoas, da conduta do paciente, e perceber em que sociedade ou em que ambiente o paciente vive e o idoso que muitas vezes é abandonado pelos seus descendentes e é deixado ao cuidado de terceiros é muitas vezes vulnerável a ter pouca saúde oral em prol das pessoas que muitas vezes o estão a tutelar, neste caso, a cuidar, não a terem e não conseguirem potenciar o estado de saúde oral que eles tinham. 

Um sorriso bonito é sinónimo de uma boa higiene e hábitos?

Sem dúvida. Eu adoro um sorriso bonito! Eu gosto de sorrisos que transmitam identidade. Identidade para mim é ver os dentes com um ar saudável, umas gengivas com ar saudáveis, e que na proporção dos dentes com a boca, com os lábios, com a face, transmitam um sorriso. Um sorriso diz tudo. Um sorriso consegue transmitir sentimentos, preocupações e, acima de tudo, é a alma do paciente. Eu costumo dizer muitas vezes que os pacientes falam com os olhos e não com os dentes porque eles não têm dentes para sorrir… E, há certos sorrisos de boca fechada que nós percebemos que o seu inconsciente está triste, que há algum problema, há algo que não consegue ir para a frente porque as pessoas já foram, se calhar, maior parte das vezes, vítimas da exclusão, directa ou indirecta, por não terem dentes ou não terem um bonito sorriso. A associação entre uma boa higiene e hábitos será revelada a longo prazo. 

 

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Quais os problemas orais mais frequentes nas pessoas seniores?

O paciente geriátrico por norma tem um edentulismo parcial ou total, ou seja, ausência de dentes. Muitas vezes esse problema foi devido à política de saúde oral ou às práticas de saúde oral dos estomatologistas ou de alguns médicos dentistas, mas também devido à carteira de muitos pacientes que, na altura, não se podiam ir tratar ou reabilitar. A seguir temos uma xerostomia, que é a boca seca, que é um problema muitas vezes associado às glândulas salivares, mas também à polimedicação que faz com que haja uma supressão de saliva. Eu acho que nós temos de entender que o estado da saúde oral é o reflexo do estado da saúde em geral. E, a partir daí conseguimos perceber que os problemas vêm uns atrás dos outros - se não tem dentes não mastiga correctamente, pode ter problemas gástricos, se não tem saliva sente a boca seca, se não tem capacidade de falar…A pessoa tem tendência a valorizar mais outras áreas da saúde, ao longo da vida, do que a saúde dentária.

 

 

 

Existem formas de se conseguir evitar chegar a uma determinada idade e ter que ir recorrentemente ao dentista?

Todos nós podemos ir ao dentista apenas uma vez por ano ou de meio em meio ano para uma consulta de higiene oral, que será também uma consulta de rotina na qual serão avaliados todos os dentes - pelo menos esse é o pressuposto de uma consulta de rotina. Se tivermos uma correcta saúde oral - em que não temos dentes fracturados, ausência de dentes - então nós só temos de ter a responsabilidade da higiene oral e de a fazermos correctamente em prol de mantermos os nossos dentes. E, também não devemos dar outras funções aos dentes, como, por exemplo, cortar uma fita-cola ou cortar fios com os dentes. Os dentes servem para sorrir, falar, comer e, acima de tudo, dar a função ao sistema estomatognático e à parte neuromuscular.

 

As taxas moderadoras não contemplam consultas de estomatologia. Como modificar esta realidade?

Estarmos a falar de uma política do sistema de saúde dentária no sistema nacional de saúde é algo que eu deixo para quem de direito. Acho que se a agregação dos alunos de medicina dentária e os futuros colegas fizessem um estágio no sexto ano, que muita falta faz, em prol dos pacientes geriátricos conseguiam fazer mais um ano em clínica integrada. Um paciente geriátrico tem falta de dentes, precisa de tratar dentes, precisa de fazer as populares desvitalizações, como também pode ter de extrair uma raiz, um dente, mas também pode ter de fazer uma prótese. Conseguimos, então, ter tratamentos para uma grande faixa da nossa população, conseguimos fazer isto controladamente a nível de custos, as universidades - quer as públicas, quer as privadas - em muito agradeciam, e, acima de tudo, a população conseguia ter um estado de saúde em geral muito superior. 

 

Como chegar à terceira idade com uma boa saúde oral?

Nós conseguimos chegar à terceira idade com uma boa saúde oral quando temos um bom estado de saúde em geral. Quando nós temos uma parte de locomoção demente e, acima de tudo, também de regras que nos permitiram chegar e viver até mais tarde, e quando nós temos essa consciência ao longo da nossa vida então também temos sobre os nossos dentes. Mas, se não tivermos capacidade financeira ou oportunidade de termos dentes quando ficamos desdentados não há idade limite para colocar implantes. Nós podemos colocar implantes desde que os pacientes reúnam as condições de saúde previstas. Quando eu digo previstas é: um estado de saúde controlado, estável, densidade óssea e, acima de tudo, discernimento mental para poderem a seguir fazer uma correcta e exímia higiene oral porque se os pacientes já perderam os seus dentes, muito mais rápido perdem os seus implantes.   

 

O medo da cadeira e dos tratamentos no dentista fazem muitas pessoas desistir de ir a uma consulta e adiar um problema. É possível desmistificar os tratamentos e este olhar?

Todos nós temos medos e fobias, uns que nos foram transmitidos, outros por más experiências. Devemos perceber que tudo é controlável de nossa parte, como médicos dentistas; Nós conseguimos perceber se um paciente tem fobia, medo, pavor da cadeira. Mas, não é da cadeira! É da experiência que lá teve, ou daquilo que os pais lhe disseram, ou daquilo que algum colega disse. Daí a importância de saber explicar ao paciente tudo o que é feito durante o tratamento, quais as consequências do mesmo, quais os cuidados a ter - pré-operatórios e pós-operatórios, em prol do paciente vir calmo, ter confiança no clínico e conseguir superar o seu medo, neste caso, o pensamento negativo que tem sobre a saúde oral realizada por médicos dentistas. Eu considero que há muito para fazer e muitas vezes temos de recorrer a técnicas de sedação diferentes - como, por exemplo, a sedação consciente ou a anestesia geral - mas, isso é fruto de algum descuido quer da pessoa quer das pessoas que passam à volta e que passam testemunhos perfeitamente desnecessários e que nada aportam em benefício quer da saúde do paciente que neste momento está com pavor, nem em benefício da promoção da saúde oral. 

 

Existem tratamentos inovadores que evitem que uma pessoa tenha que se deslocar a um dentista 4 vezes para desvitalizar um dente? Se sim quais?

A desvitalização é da área da endodontia e hoje em dia há várias técnicas de fazer um tratamento endodôntico ou numa sessão única, mas isso não quer dizer que ao ir mais vezes o médico é pior do que aquele em que só vai uma vez. Tem a ver se o dente em si tem indicação para fazer em uma sessão, duas sessões ou três sessões porque muitas vezes é o refazer um tratamento endodôntico - é o retratamento endodôntico - que obriga a uma sessão ou três sessões. É vulgar hoje em dia fazer-se em uma sessão única, e não em três, quando é o primeiro tratamento endodôntico de um dente, mas cabe sempre ao clínico a sua decisão. O tratamento endodôntico mecanizado através muitas vezes de microscópio, como se faz na minha clínica, deve-se a meios tecnológicos associados a um profissional formado nessa área, especialista nessa área, que optimiza o tempo do paciente e o dele em prol de um tratamento simples, indolor e eficaz.

 

Existem alimentos mais ou menos indicados para uma boa saúde oral? Quais?

Podemos dizer que tudo o que tiver corantes e conservantes não é benéfico para os dentes. Se nós tivermos uma boa dieta  de carnes brancas, de peixe, de comermos entre as refeições, de frutas, de legumes, então não temos quaisquer problemas com o estado da nossa saúde oral, isto é, não são estes alimentos que vão pigmentar os dentes. Os alimentos não provocam dor nos dentes. É o excesso de consumo de açúcar que muitas vezes provoca cáries que muitas vezes leva então a que doa depois ao frio ou ao quente, mas para isso teve de haver negligência do paciente a não fazer uma correcta higiene oral. O meu conselho para todos os pacientes, tenham a idade que tiverem, é: primeiro, atinjam um estado de saúde oral, um equilíbrio e a partir daí façam então só a consulta anual de manutenção. Se para isso nós vamos demorar três meses, quatro meses, meio ano, até conseguirmos chegar a esse ponto, então devemos demorar esse tempo em prol da saúde, mas que a longo prazo nós ganhamos também um estado de saúde em geral melhor. E, nós conseguirmos transmitir através de um sorriso a nossa saúde é muito bom porque todos nós gostamos de sorrir e que alguém também sorria para nós com ar saudável.