No dia 2 de agosto, o Programa de Consumo Vigiado Móvel recebeu a visita do Profº Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional das Hepatites Virais (PNHV) da Direção-Geral da Saúde, diretor do Hospital de Santa Maria, e especialista em Gastrenterologia, subespecialista em Hepatologia e com a competência em Adictologia Clínica pela Ordem dos Médicos. 

A visita teve como objetivo conhecer o trabalho realizado por este programa de Redução de Riscos e Minimização de Danos, gerido pela Médicos do Mundo. O Programa de Consumo Vigiado Móvel (PCVM) é um programa pioneiro em Portugal, tendo sido a primeira – e até agora a única - sala de consumo vigiado móvel no país. 

Trata-se de uma resposta multidisciplinar de proximidade, que contribui para a saúde, segurança e qualidade de vida das Pessoas que Utilizam Drogas Injetadas (PUDI) e das comunidades mais afetadas pelo consumo em espaços públicos, na zona oriental da cidade de Lisboa. 

“É um trabalho extraordinário. A integração dos vários tipos de cuidados faz todo o sentido e é o caminho que temos de seguir”, considera o Profº Rui Tato Marinho. “É o que temos estado a fazer, a nível hospitalar, e no ensino da Medicina, através do envio de alunos, para conhecer estas realidades. Também com as Unidades Locais de Saúde e, a nível mundial, a Organização Mundial da Saúde também o defende: juntar a saúde física e mental, o apoio social, espiritual e até a parte ecológica – sim, porque isto também tem muito a ver com a Ecologia.”

A mobilidade é uma das caraterísticas únicas desta resposta. “Esta prestação de cuidados de saúde móveis é muito moderna e deveria ser mais frequente, porque estas pessoas não são marginais (…), são pessoas que precisam de cuidados de saúde, muitas delas com doença mental (…). É um bem ajudá-las, acalmá-las, dar-lhes apoio psicológico e social”, refere o especialista.
  
Outra caraterística é a proximidade, que faz toda a diferença junto da população-alvo. “Não podemos estar à espera de que todos os cidadãos vão à consulta, que tirem uma senha e estejam à espera. Não pode ser. Neste momento, a sociedade está muito diferente do que era há uns anos. E este mundo dos consumos, das adições, é um mundo também muito social e psicossocial com forte relação com a criminalidade.”

O Profº Rui Tato Marinho sublinha também a questão da longevidade, em que a componente social de proximidade é essencial. “Temos cidadãos a viver até aos 90 anos, num grau de dependência também muito grande, e que estão nas suas casas. Aliás no hospital temos uma unidade de hospitalização domiciliária, ou seja, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, que vão a casa das pessoas que estão internadas. Realmente não é possível todos irem aquele grande “supermercado” de saúde que é o Hospital de Santa Maria agora integrado na Unidade Local de Saúde de Santa Maria, com o Hospital Pulido Valente e algumas dezenas de centros de Saúde de Lisboa Norte e Mafra.”

 

Micro-eliminação da hepatite C

Um dos objetivos do PCVM é melhorar a saúde dos PUDI, através da redução da morbilidade e mortalidade associada à sobredosagem e da prevenção dos riscos e danos associados ao consumo injetado. Tal inclui o contributo para a micro-eliminação das hepatites virais.

“A micro-eliminação é o caminho a seguir e Portugal tem um trabalho de excelência nesta área. Temos vários países a vir ver como é que nós fazemos. No relatório anual do PNVH da Direção-Geral de Saúde, temos sempre um capítulo, nos últimos dois anos, para colocar as experiências fantásticas destas equipas que estão no terreno, os point of care. Este ano, colocámos cerca de 15 e, era aquilo que dizia, as pessoas não vão ao hospital, muitos delas também não vão aos centros de saúde. Somos nós que temos de ir ao local, para nosso benefício.”

 

A missão da Médicos do Mundo “justifica-se muito”

Após 25 anos da sua fundação em Portugal, o Profº Rui Tato Marinho considera que se “justifica muito” a missão da Médicos do Mundo, por ser “pioneira nesta ajuda psicossocial” e pelo trabalho que realiza “num mundo em guerra constante”

Para o diretor da maior unidade hospitalar do país, “a Médicos do Mundo tem de ser mais conhecida, nomeadamente em termos de Faculdades de Medicina, temos de os integrar em algumas aulas (…) e os alunos de Medicina têm de vir aqui, ao terreno. O ensino da Medicina não pode ficar fechado entre quatro paredes”. 

Sobre a história da MdM, recorda: “No início, poderia pensar-se que as salas de consumo geridas pelos Médicos do Mundo era um pouco alternativa, mas 25 anos depois, demonstra-se que é este o caminho da modernidade, integração de cuidados, point of care, filosofia de aproximação restaurativa médica, jurídica e Humanista. Estão de parabéns.” 

"Foi um dia em que cresci, vendo a vossa atividade."

 
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